Título: PIOR CENÁRIO ECONÔMICO EM 30 ANOS
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Fonte: O Globo, 20/02/2005, O Mundo, p. 40

Portugal elegerá um novo governo amanhã com um duro pano de fundo: o país vive a pior crise econômica dos últimos 30 anos. A problemas estruturais, somam-se o grave desequilíbrio das contas públicas e a abertura dos mercados mundiais aos produtos de países como a China.

O atraso não admite mais adiamentos. A agonia portuguesa começou em 2001, quando os gastos do Estado se tornaram incontroláveis. O déficit ficou na casa de 4,2% do PIB. Bruxelas ameaçou com sanções e o governo adotou uma política de austeridade financeira junto com aumento de impostos. A economia, muito dependente do Estado, estancou. A má conjuntura internacional fez o resto. Portugal entrou em recessão no fim de 2002 e só no primeiro trimestre de 2004 a economia voltou a crescer.

No entanto, as últimas cifras tornam a indicar um crescimento menor no final de 2004 e ¿ o que soa os alarmes ¿ a tímida recuperação se fez às custas, essencialmente, do consumo interno. Todos os analistas dizem que só uma recuperação por meio das exportações seria positiva, para evitar o colapso ocorrido há quatro anos, quando o enorme endividamento das famílias, do sistema financeiro e do próprio Estado impediu a reação diante da desfavorável conjuntura internacional. O problema, segundo um estudo recente, é que não foram feitas reformas estruturais, tanto em matéria de consolidação orçamentária como de reconversão do esgotado modelo competitivo português, baseado nos baixos salários de uma mão-de-obra pouco qualificada.

Portugal tem os piores índices de educação e formação da União Européia (à frente só de Malta) e a produtividade é 64% da média do bloco. O país não consegue atrair investimentos estrangeiros. A indústria é incapaz de colocar produtos novos e competitivos nos mercados internacionais, sucedendo-se os fechamentos de fábricas, por falência ou porque elas vão para outros países.