Título: EXÉRCITO A POSTOS PARA DESARMAR
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Fonte: O Globo, 21/02/2005, O País, p. 3

OExército está pronto para iniciar uma megaoperação de desarmamento nas áreas onde ocorrem os principais conflitos agrários do interior do Pará. A missão será executada em conjunto com as polícias Federal, Rodoviária Federal, Militar e Civil. Além de recolher armas, a operação também terá por objetivo cumprir mandados de prisão acumulados. Em todo o estado, há mais de dez mil mandados expedidos, mas até hoje sem cumprimento.

Do Exército, estão prontos para participar da operação todos os homens já deslocados para dez regiões de conflito. Até ontem, eram pouco mais de 400 militares, baseados nos municípios de Anapu, São Félix do Xingu, Parauapebas, Novo Repartimento, Pacajá, Senador José Porfírio, Porto de Moz, Altamira, Medicilândia e Uruará. Numa segunda etapa, serão enviados soldados para Novo Progresso e Itaituba, totalizando 12 municípios. Anapu, lugar onde foi morta a missionária americana Dorothy Stang, é onde há o maior efetivo: 110 homens. Em cada um dos demais, há um pelotão, com 36 militares cada.

Exército dará apoio a policiais

A tarefa do Exército será dar retaguarda aos policiais que, por lei, têm a atribuição de executar esse tipo de tarefa. Serão feitas barreiras nas estradas e nos centros urbanos e também operações específicas em lugares onde há concentração de armas, como fazendas vigiadas por milícias particulares.

Para isso, estão sendo diagnosticadas as áreas mais críticas. O mapeamento servirá de base para que sejam solicitados à Justiça mandados de busca e apreensão autorizando a entrada dos militares, por exemplo, em propriedades privadas onde, sabidamente, existem armas de fogo.

Hoje, os responsáveis pelas forças que vão participar da operação se reúnem em Belém com o comandante da 8ª Região Militar do Exército, general-de-divisão Jarbas Bueno da Costa, para traçar os últimos detalhes da missão. Oficialmente, o Exército diz que está aguardando ordem de Brasília para iniciar a operação. Mas a previsão é de que o trabalho seja iniciado ainda esta semana.

A Polícia Militar do Pará diz ter pelo menos mais 5,5 homens, em média, para atuar na operação. Deverão ficar de prontidão todos os policiais que atuam nos batalhões do interior mais os integrantes dos batalhões especiais que foram deslocados para o oeste paraense, região onde fica Anapu.

Bida tem mandado de prisão pendente

Como parte da preparação para a megaoperação, a Polícia Civil paraense fez nos últimos dias um levantamento de todos os mandados de prisão pendentes no estado. O número é de assustar: são mais de 10 mil, que têm como alvo desde acusados de crimes menores até assassinos. Dessa conta fazem parte o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e os outros dois homens acusados de executar a freira Dorothy Stang.

Como o número de mandados é grande, foram separados aqueles que envolvem acusados de crimes de maior potencial ofensivo, como homicídio, seqüestros e assaltos. A intenção é cruzar essa base de dados com os nomes das pessoas paradas na operação, na tentativa de reduzir o número de procurados.

O Pará é um dos estados onde menos surtiu efeito a Campanha do Desarmamento do governo federal. Até o fim de janeiro, havia recolhido 4.347 armas, número que o coloca em 20º lugar no ranking, entre as 27 unidades da federação. No interior, onde estão os maiores focos de conflitos, a campanha surtiu pouquíssimo efeito: de todas as armas entregues, 76% foram devolvidas na capital, Belém.