Título: POLÍCIA PRENDE SUSPEITO DA MORTE DE FREIRA
Autor: Rodrigo Rangel
Fonte: O Globo, 21/02/2005, O País, p. 3

Rayfran das Neves Sales, o principal suspeito de executar a missionária americana Dorothy Stang, foi preso ontem à noite a 35 quilômetros da sede do município de Anapu, no Pará. A prisão foi efetuada pela Polícia Civil do Pará, em conjunto com uma patrulha do Exército. Rayfran, de 28 anos, estava desarmado, numa barraca de náilon montada à beira da rodovia Transamazônica.

No sábado, já tinha se entregado à polícia Amair Feijoli da Cunha, o Tato, suspeito de ter intermediado o assassinato e contratado o pistoleiro. A polícia chegou a Rayfran depois de ter sido identificado por uma pessoa que passava pela Transamazônica e o reconheceu após ter visto o seu retrato falado. Essa pessoa, cujo nome está sendo mantido sob sigilo, seguiu de motocicleta até a base do Exército em Anapu. Os militares, então, organizaram uma patrulha, acionaram a Polícia Civil e seguiram até o local apontado pela denunciante. A área foi vasculhada até que Rayfran foi encontrado por volta das 19h40m.

Testemunhas dizem que Rayfran fez maioria dos disparos

A polícia afirma, com base em depoimentos de testemunhas do crime, que Rayfran foi o responsável por efetuar a maioria dos disparos que mataram a freira Dorothy Stang. Nascido no município de Sítio Novo, em Goiás, Rayfran seria levado hoje para Altamira, onde prestaria depoimento. Agora a polícia continua em busca do fazendeiro Vitalmiro de Bastos Moura, o Bida, suspeito de encomendar o crime, e de Uilquelano de Souza Pinto.

Tato foi indiciado ontem nos dois inquéritos abertos pela polícia para apurar o assassinato da missionária americana, executada no último dia 12 em Anapu, no oeste do Pará. Ele foi indiciado tanto pela Polícia Civil quanto pela Polícia Federal por homicídio qualificado.

Em depoimentos prestados ontem, o lavrador voltou a negar qualquer participação no crime. Apesar disso, o delegado Waldir Freire, da Polícia Civil, disse ter juntado elementos que ajudam a reforçar a suspeita de que Tato atuou como intermediário do crime. A tese da polícia é de que, a mando do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, o lavrador tenha contratado os dois homens acusados executar a freira: Uilquelano Pinto, o Eduardo, e Rayfran.

¿ Nós chegamos à conclusão de que há uma íntima relação entre ele (Tato), Bida e as pessoas de Rayfran e Eduardo ¿ disse Freire.

Para o delegado, Tato mentiu e caiu em contradição:

¿ Ele disse que não conversou com a irmã Dorothy, mas nós temos depoimentos de várias testemunhas que dizem ter visto ele discutir e até dizer várias palavras de baixo calão contra ela no dia do crime. Se ele está mentindo nesses detalhes pequenos, ele está mentindo o tempo todo.

Polícia Civil acredita que acusado teve ajuda para fugir

A Polícia Civil acredita que o lavrador tenha recebido ajuda de terceiros para fugir do local do crime, embora ele afirme ter fugido sozinho, andando pela floresta.

¿ Ele não está nem com arranhão ¿ estranha o delegado.

A cada dia fica mais evidente a divisão entre a Polícia Civil e a Polícia Federal, que participam das investigações. Cada uma tem um inquérito para investigar o mesmo crime. Ontem, Tato teve de prestar dois depoimentos. O primeiro, para a Polícia Civil, durou duas horas e 40 minutos. Em seguida, na Polícia Federal, ele foi interrogado por mais uma hora e meia.

Tato já cumpriu pena por falsificação de documentos públicos e receptação de carro roubado no Espírito Santo. Ele cumpriu a pena em regime aberto e teve de prestar serviços à comunidade durante três anos. A pena terminou em 12 de agosto de 1996. Em 2002, Tato mudou-se para o Pará. Um irmão dele é acusado de homicídio em Brejetuba, no interior do Espírito Santo.