Título: BUSH ADMITIU TER USADO DROGAS, REVELA O `NYT'
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Fonte: O Globo, 21/02/2005, O Mundo, p. 18

Gravações secretas, realizadas entre 1998 e 2000, mostram que o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ferrenho defensor de valores conservadores, aparentemente admitiu ter fumado maconha na juventude, segundo o jornal ¿The New York Times¿. A revelação é de Doug Wead, amigo do presidente e de sua família, que gravou mais de dez conversas particulares que teve com Bush quando este ainda era governador do Texas.

Em uma dessas conversas, Bush criticou o então vice-presidente dos Estados Unidos, o democrata Al Gore, por ter admitido o uso de maconha na adolescência, e disse que jamais iria responder a perguntas sobre esse assunto.

¿ Nunca responderei a perguntas sobre maconha ¿ afirmou Bush numa das gravações. ¿ Sabe o motivo? Porque não quero que um garoto faça as mesmas coisas que eu fiz.

Bush também criticou o ex--presidente Bill Clinton, que já admitiu ter fumado maconha, mas sem tragar, por seu envolvimento com a estagiária Monica Lewinski.

¿ Ele envergonhou a nação.

Doug Wead foi assessor de George Bush pai e teve diversas reuniões com o futuro presidente para tratar de assuntos de estratégia política. Ele disse que gravou as conversas porque considera Bush ¿uma figura histórica, gostem ou não gostem dele¿. Wead garantiu que faria a mesma coisa ¿se estivesse ao telefone com Gandhi ou Churchill¿.

Veracidade das gravações não foi negada

A Casa Branca não negou a veracidade das conversas. Em comunicado, um porta-voz da Presidência, Trent Duffy, declarou que se tratam de conversas informais entre o então governador do Texas e alguém que ele considerava seu amigo.

Perguntado se George W. Bush havia usado drogas na juventude, Duffy respondeu que ¿esse tema já foi tão esgotado que não há mais nada a acrescentar¿. Durante sua primeira campanha à Presidência dos EUA, Bush admitiu ter tido problemas de alcoolismo.

Nas conversas com Wead, ele reconheceu ter tido um ¿comportamento selvagem¿ e disse nunca ter negado o uso de cocaína, mas afirmou que sobreviveria a qualquer devassa no seu passado.

¿ Aprendi com um pastor no Texas que não é bom entrar em detalhes sobre as nossas transgressões e que o certo é admitir os pecados e dizer que, sim, a lição foi aprendida.

Num outro trecho, antes de ir para um encontro com líderes cristãos em 1998, Bush diz que há formas ¿adequadas e não adequadas de dizer as coisas¿. Ele avisou a Wead: ¿Vou dizer que aceitei Cristo em minha vida, porque isso é a mais pura verdade¿.

Num trecho, Bush disse que vai lutar contra o mundo

Indagado por Wead se não achava que o poder corrompe, Bush se apóia na Bíblia e na sua fé para responder:

¿ Eu tenho uma grande esposa. E leio a Bíblia diariamente. A Bíblia é um excelente remédio para manter o ego sob controle ¿ afirmou.

Em outra parte, Bush enumerou os cinco momentos fundamentais de sua vida até então: ¿Aceitar Cristo, casar, ter filhos, concorrer a governador do Texas e ter escutado os conselhos de minha mãe¿.

As gravações mostram também Bush já demonstrando seu apego a valores conservadores, sua posição contrária ao casamento gay e seu ceticismo em relação às Nações Unidas. ¿Vai ser uma luta do tipo eu contra o mundo¿, afirmou Bush em determinado momento, demonstrando arrogância.¿E sabe a boa notícia? O mundo está comigo. Ou pelo menos, a metade dele¿.

Wead garante que não busca publicidade ou algum tipo de benefício com a divulgação das gravações, mas entende que Bush possa entender seu ato como uma traição. Segundo ele, a primeira vez em que mostrou publicamente as fitas foi em dezembro do ano passado, quando teve que provar a um repórter a autenticidade de um trecho sobre Bush no seu livro ¿The Raising of a President¿. Nele, Wead não menciona as gravações.

O ¿New York Times¿ contratou um especialista em áudio. Ele garantiu a autenticidade das gravações e disse que é realmente a voz de Bush ao telefone. Perguntado sobre as conseqüências do seu ato, Wade diz que espera que Bush entenda que ele vai ser sempre seu amigo.