Título: ACUSADOS ESTARIAM TENTANDO OCULTAR MANDANTE
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Fonte: O Globo, 21/02/2005, O País, p. 3

Embora Amair Feijoli da Cunha, o Tato, tenha constituído o advogado Oscar Damasceno Filho, sua apresentação espontânea à Policia Civil do Pará, no último sábado, foi intermediada por outro advogado: Augusto Septímio, que defende o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser o mandante do crime.

Septímio também teria dado aos investigadores a informação sobre o local onde estava escondido Rayfran Neves Sales, executor confesso da missionária Dorothy Stang. Juntas, essas informações criaram a suspeita de que o grupo investigado por participação no assassinato pode ter combinado versões com a ajuda dos advogados para evitar que a polícia chegue aos mandantes do crime.

Outro indício é o fato de Septímio ter dito, logo após a prisão de Tato, que a prisão de Rayfran esclareceria toda a história. Rayfran foi preso horas depois e, inicialmente, tentou desvincular Tato e Bida de qualquer participação no crime, acusando o sindicalista Francisco de Assis de Souza, o Chiquinho do PT, de ter encomendado a morte.

¿ Os depoimentos prestados à Polícia Civil foram combinados. O Chiquinho não tem nada a ver com isso ¿ disse ontem Denise Aguiar, representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ao sair do depoimento de Rayfran em que ele admitiu à Polícia Federal ter mentido ao envolver o sindicalista no crime.

Septímio tem trabalhado em conjunto com o advogado de Tato, Oscar Damasceno Filho, embora os dois neguem que haja relação entre seus clientes num contrato de compra e venda de terra. Damasceno disse que ainda estuda impetrar um hábeas-corpus em favor de Tato, que se entregou no último sábado.

Ontem, Septímio apresentou documentos que, segundo ele, comprovariam ser do fazendeiro Bida a área em disputa com os colonos do Projeto de Desenvolvimento Sustentável, onde morreu a missionária americana. O advogado apresentou documentos de quatro páginas do Incra assinado por Antônio Elídio Coutinho Queiroz, da unidade administrativa do órgão em Altamira (PA). Segundo o advogado, o lote, alvo de disputa com os colonos, é uma área produtiva e estaria inviabilizada para implantação do projeto. Em Brasília, porém, o Incra assegura que as terras do fazendeiro são mesmo áreas públicas.

Menos de duas semanas depois do assassinato de Dorothy, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, voltou ontem a reconhecer a omissão dos poderes públicos no Pará ao longo das últimas décadas. Segundo ele, o problema só começou a ser resolvido no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para Bastos, a morte da missionária está relacionada à reação dos criminosos da região às medidas implementadas pelo governo federal.

¿ É uma omissão de dezenas de anos e agora essa omissão começou a ser suprida pela presença do Estado lá. A morte da irmã Dorothy foi uma reação a essa presença do Estado na Terra do Meio. O governo federal, desde o primeiro momento, no início de sua administração, está trabalhando no sentido de estabelecer um convívio civilizado que preserve o meio ambiente, a riqueza da Amazônia ¿ disse Bastos, antes de participar de solenidade na OAB.