Título: ENTIDADES PEDEM AÇÃO CONTRA VIOLÊNCIA
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Fonte: O Globo, 22/02/2005, O País, p. 4

Sindicatos de trabalhadores rurais do Pará, parlamentares do estado e representantes de entidades civis entregam hoje ao governo um pacote de reivindicações para tentar acabar com a violência na região onde foi assassinada a missionária Dorothy Stang. No encontro que terá com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o grupo entregará uma lista com 30 nomes de fazendeiros que contratam pistoleiros. A lista está sob sigilo para não atrapalhar a investigação.

Ontem, líderes do MST e da Federação dos Trabalhadores em Agricultura (Fetagri), responsáveis pela maior parte dos acampamentos e das ocupações de sem-terra no Pará, afirmaram que o governo terá uma trégua até o início de março. Depois disso, caso não sejam feitas desapropriações de fazendas griladas, eles darão início a uma onda de invasões.

¿ Promoveremos uma onda de ocupações para pressionar mais ¿ afirmou Manoel Sarmento, secretário de Política Agrária da Fetagri, que tem 20 mil famílias acampadas no Pará.

Desde o assassinato de Dorothy, seguido da morte de outros líderes, as duas organizações têm feito uma demonstração de força em diversas cidades do Pará, ocupando sedes do Incra, e bloqueando estradas. Na sede de Belém, os sem-terra armaram barracas em todo o terreno e dizem que só sairão após a desapropriação de áreas ocupadas pelo movimento no Pará.

¿ Há uma guerra civil rural aqui, mas não deram ouvidos sequer à irmã Dorothy. É possível que a gente reaja com uma grande onda de ocupações, em breve ¿ disse Alcenir Monteiro, da coordenação estadual do MST.

Fazendeiros ameaçam colonos, diz deputado

Segundo o deputado federal Zé Geraldo (PT-PA), cuja base eleitoral é a região de Anapu, os fazendeiros, a maior parte grileiros, vêm ameaçando agricultores e posseiros no oeste do Pará. O grupo que está em Brasília pedirá ao governo que mantenha o Exército e a Polícia Federal na região durante o ano todo. O grupo também vai pedir a instalação de mais uma superintendência do Incra, em Altamira.

Ontem, o governo federal, em parceria com o do Pará, começou a fazer uma triagem na lista de 65 pessoas ameaçadas de morte, elaborada pela Fetagri, para oferecer a adesão ao Programa de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos, lançado no estado uma semana antes da morte da missionária. Mais recente e menos rigoroso do que o programa de proteção convencional, o novo projeto está sendo implantado no Pará, no Espírito Santo e em São Paulo. As testemunhas do assassinato da irmã, entretanto, devem ser incluídas no programa de Proteção à Vítimas e Testemunhas.

¿ Os representantes do grupo de trabalho responsável pela implantação do programa vão à região de conflito para identificar os ameaçados. Já recebemos listas da Fetagri, do MST e de deputados. Mas é preciso fazer a triagem. Alguns dizem: `O assentamento está ameaçado¿. Não é possível que todo o assentamento esteja ameaçado. A PF também vai ajudar na triagem ¿ explica o subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Perly Cipriano.