Título: PROCURADOR ALERTOU PARA CRIME ORGANIZADO NO PA
Autor:
Fonte: O Globo, 22/02/2005, O País, p. 4

Não foi por falta de aviso que o Ministério da Justiça e o governo do Pará deixaram de adotar medidas que pudessem inibir crimes como o assassinato da missionária Dorothy Stang, no último dia 12. Em setembro de 2003, o procurador da República Mário Lúcio de Avelar elaborou um relatório sobre o avanço do crime organizado e da grilagem de terras públicas no Pará, especialmente entre Altamira e São Félix do Xingu, a Terra do Meio.

O documento foi encaminhado à Polícia Federal e ao procurador-geral da República, Cláudio Fonteles. Avelar explica como fazendeiros, madeireiros e pistoleiros se juntaram para invadir terras públicas, explorar madeiras nobres e, em muitos casos, matar os adversários.

O documento aponta o envolvimento de servidores do Incra, do Ibama, do Banco da Amazônia (Basa) e do Instituto da Terra do Pará (Iterpa) com falsificação de documentos e a concessão de financiamentos suspeitos que facilitavam a ação dos grileiros. O procurador cita o nome de mais de 20 pessoas, indica quais são os crimes que cada uma cometeu e, em alguns casos, fornece números de telefone e os endereços onde elas poderiam ser encontradas.

¿O pistoleiro substituiu o policial¿, diz Avelar

¿A região de São Félix do Xingu e Altamira encontra-se dominada pela presença ativa do crime organizado¿, informou o procurador. Segundo ele, na ausência do Estado, os fazendeiros invadiam terras e contratavam pistoleiros, inclusive policiais, para assegurar privilégios e até mesmo matar os inimigos. ¿O pistoleiro substituiu o policial, isto quando policial não virou pistoleiro ou os dois não trabalham juntos¿, diz Avelar.

O procurador sustenta ainda que, encorajados pela impunidade e pela facilidade da prática de todo tipo de crime, os fazendeiros e madeireiros estavam invadindo até mesmo terras indígenas. Alguns destes fazendeiros chegaram até ser beneficiados com financiamento públicos.