Título: Renan e Severino se unem para pressionar Lula
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Fonte: O Globo, 22/02/2005, O País, p. 8

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cobrou ontem mudanças no modelo de articulação política do Palácio do Planalto, uma determinação mais clara do papel dos ministros que integram esse núcleo e a aceleração da implantação de um governo de coalizão, com a cessão de espaço do PT aos aliados. Renan recebeu o apoio imediato de seu colega da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), para quem o governo petista é muito fechado e precisa se abrir mais.

¿ Não há como chegar ao governo de coalizão sem reforma ministerial. O presidente disse que nos chamaria para discutir os detalhes dessa reforma já faz algum tempo. Estamos esperando ¿ disse Renan, durante café da manhã com jornalistas na residência oficial do Senado. ¿ O PT precisa compartilhar mais o poder com aliados. Mas isso é diferente de dizer que é preciso dividir cargos, levando a questão apenas para o campo do fisiologismo.

Severino concordou:

¿ Renan é sábio. Ele está abordando o tema que tem que ser aprendido pelo presidente. Este é um governo muito trancado. O que não pode é ficar o governo trancado, reduzido a um pequeno número, o que só faz ocasionar derrota.

Renan: PMDB não ajudou muito

Renan reconheceu que seu partido, o PMDB, também não colaborou muito para que o presidente acelerasse a mudança do modelo de articulação política e viabilizasse um governo de coalizão.

¿ O PMDB não afinou suas correntes internas e isso não ajudou muito. Meu trabalho hoje é harmonizar o partido.

O presidente do Senado, porém, comentou também os erros do governo e do PT. Sem citar o presidente do PT, José Genoino, que entrou em rota de colisão com Severino ao declarar que sua eleição fora uma vitória do corporativismo, Renan mostrou sua divergência em relação a esse raciocínio:

¿ É um erro pensar que a eleição do Severino foi resultado apenas do corporativismo. Seria restringir muito a leitura do resultado, que reflete também a dificuldade de relacionamento do governo com o Congresso ¿ disse, em mais um recado ao Planalto sobre a insatisfação da base.

Cresce pressão por reforma

A pressão pela reforma ministerial cresce, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não parece ter pressa. Só deve concluir as mudanças nos próximos 15 dias. Lula, porém, tem dado sinais de que concorda com a proposta de um governo de coalizão, como defende o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política). Quem não gosta da idéia é o chefe da Casa Civil, José Dirceu, e seus colegas petistas. Até Genoino já pregou que o PT ceda espaço para que Lula faça uma reforma de acordo com as necessidades políticas.

Qualquer que seja a decisão do presidente sobre a reforma, Renan defende sua participação na articulação política do governo, mas aconselha que ele decida primeiro o modelo que pretende seguir.

¿ Se botarem o presidente na coordenação política sem ter um modelo determinado, Lula terá dificuldades. Sua participação é fundamental, mas como uma conseqüência do novo modelo. Antes é preciso saber o que cada um faz no Planalto ¿ disse Renan.