Título: Severino: sociedade quer reajuste para deputados
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Fonte: O Globo, 22/02/2005, O País, p. 12

Uma semana depois de eleito presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) disse ontem estar convencido de que a sociedade aprovará sua promessa de aumentar os salários dos deputados. Para Severino, o que a sociedade não aprova ¿é roubalheira e desonestidade¿. Perguntado sobre boatos de que houve compra e aluguel de mandatos de deputados nos dias que antecederam a eleição, Severino disse que só poderá abrir investigação se houver provas contundentes.

¿ Na primeira denúncia efetiva, não tenha dúvida de que abrirei sindicância. Espero que quem tem provas apresente, mas levantar esse clima de desconfiança contra todos os parlamentares é ruim ¿ afirmou.

Ele voltou a defender o reajuste dos subsídios dos deputados de R$12.500 para R$21 mil. E disse não temer reação negativa da opinião pública:

¿ Evidente que a sociedade quer, que está aceitando. Não tem sido é bem esclarecida (a proposta). O que a sociedade não aceita é desonestidade e roubalheira. Se existir isso dentro da Câmara, vou acabar.

A guerra do governo com o secretário de Governo do Rio, Anthony Garotinho, pelo controle do PMDB, tem alimentado suspeitas e boatos de compra e aluguel de deputados. Nas últimas semanas, a bancada do PMDB pulou de 77 para 90 deputados.

O corregedor da Câmara, deputado Ciro Nogueira (PP-PI), disse que, se as suspeitas se confirmarem, a investigação vai até o fim, inclusive com quebra de sigilo bancário. O líder do PP, José Janene (PR), disse que fará a representação na corregedoria assim que tiver indício de compra e venda de mandatos.

¿ A guerra não é do Borba com o Saraiva Felipe, o homem de Garotinho para a liderança. É do governo com o Garotinho. Estamos procurando uma pequena evidência para formalizar a denúncia ¿ disse Janene.

Piauhylino recebeu reclamação em seu mandato

O corregedor disse que no fim do mandato de seu antecessor, Luiz Piauhylino (PDT-PE), o deputado Wilson Santiago (PMDB-PB) havia entrado com uma reclamação na corregedoria pedindo apuração de denúncias de compra de mandatos no troca-troca partidário. O antigo corregedor pediu que o reclamante enviasse um ofício com a relação dos deputados que teriam recebido dinheiro para abrir a sindicância, mas isso não aconteceu.

¿ Essa questão da liderança do PMDB é muito ruim para a imagem da Casa. Se tiver alguma coisa consistente, vamos até o fim, inclusive com quebra de sigilos ¿ afirmou o corregedor Ciro Nogueira.

O líder do PFL, deputado Rodrigo Maia (RJ), afirma que o episódio do troca-troca partidário leva, mais do nunca, à necessidade de debater a reforma política. Para ele, foi muito grave ver deputados aceitando o papel de alugar seus mandatos.

¿ Foi um grande leilão e dizem que houve liberação de verbas do orçamento federal e estaduais. Se houve ou não compra de deputados, não sei. Creio que o presidente deveria encaminhar à corregedoria, mas com a cautela de não acusar sem provas. Seria melhor, neste caso, pautar mudanças de reforma política, como a introdução da fidelidade partidária.