Título: CONTAS EXTERNAS BATERAM RECORDES EM JANEIRO
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Fonte: O Globo, 22/02/2005, Economia, p. 23

O Brasil continua recebendo uma enxurrada de recursos do exterior, tanto devido aos superávits comerciais quanto à entrada de investimentos estrangeiros diretos (IED). Isso resultou em saldo expressivo das contas externas em janeiro, o que explica a valorização do real frente ao dólar, hoje abaixo de R$2,60. Só as transações correntes (soma de balança comercial, pagamento de juros, viagens internacionais, remessa de lucros e dividendos) tiveram em janeiro saldo de US$818 milhões ¿ o melhor resultado para o mês desde 1947, quando começou a série histórica do Banco Central (BC).

O resultado de 2004 foi de US$680 milhões. A conta financeira (investimentos e empréstimos) teve superávit de US$1,187 bilhão em janeiro, bem abaixo dos US$3,629 bilhões de igual mês do ano passado. Mas os investimentos produtivos que vêm do exterior ¿ contabilizados nesta rubrica ¿ aumentaram 22,7%, para US$1,218 bilhão. O bom volume de captações no período também contribuiu.

Com a sobra de dólares no mercado de câmbio, o BC comprou em janeiro US$2,566 bilhões para elevar as reservas internacionais. Segundo dados prévios, o BC teria adquirido US$2,6 bilhões até 18 de fevereiro.

Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, as exportações têm sido o grande motor das transações correntes e os contratos de câmbio indicam hoje a manutenção das vendas externas em níveis elevados.

¿ No acumulado em 12 meses, as transações estão com superávit de US$11,807 bilhões, equivalente a 1,95% do Produto Interno Bruto (PIB) ¿ disse Lopes, lembrando que esses são os melhores dados desde 1947.

Segundo ele, as transações correntes poderão ter saldo de US$500 milhões em fevereiro. Mês passado, os gastos com viagens ao exterior foram de US$296 milhões, contra US$196 milhões em janeiro de 2004. Com isso, o superávit em viagens caiu de US$100 milhões para US$44 milhões. Lopes disse que o gasto com viagens deve aumentar com a valorização do real e o aumento da renda, mas as maiores despesas são os juros da dívida externa (US$1,021 bilhão em janeiro) e as remessas de lucros e dividendos de multinacionais (US$372 milhões).

¿ O primeiro semestre tem uma concentração de remessa de lucros ¿ explicou Lopes. ¿ Em fevereiro, as remessas estão em US$833 milhões.

Empresas renovaram 92% de seus vencimentos externos

Já os IED somaram US$1,218 bilhão em janeiro, frente a US$993 milhões no mesmo mês de 2004. Segundo Lopes, esses investimentos estão em US$700 milhões em fevereiro, um volume alto para este período. O BC estima que os IED atinjam US$14 bilhões este ano, contra os US$18,166 bilhões de 2004.

As captações de médio e longo prazo somaram em janeiro US$466 milhões, para vencimentos de US$508 milhões. As empresas privadas renovaram 92% dos seus vencimentos externos, contra média de 64% em 2004. Em fevereiro, segundo Lopes, a taxa está em 51%.

Já a entrada de dólares no Brasil pelas mãos e cartões de turistas estrangeiros bateu recorde histórico em janeiro: US$341 milhões em divisas, o maior valor registrado em um mês, superando os US$335 milhões de dezembro de 2004. As quantias levantadas pelo BC referem-se a trocas cambiais oficiais e compras com cartão de crédito internacional. Segundo o BC, em 2004 as viagens internacionais geraram a entrada de US$3,22 bilhões no Brasil, 30% acima do ano anterior. O superávit foi de US$351 milhões, 61% acima dos US$218 milhões de 2003.

¿ Já podemos comemorar este verão como um dos melhores da História ¿ disse o presidente da Embratur, Eduardo Sanovicz.