Título: Unicef: uma em cada 12 criançasé explorada com trabalho infantil
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Fonte: O Globo, 22/02/2005, Economia, p. 23

Uma a cada 12 crianças ou jovens com menos de 18 anos no mundo trabalha sob as piores formas de exploração ¿ seja em fábricas, minas, no campo, em exércitos ou na prostituição ¿ revelou um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado ontem em Londres. Segundo o estudo, que classifica o trabalho infantil como ¿uma cicatriz na consciência mundial do século XXI¿, 97% das crianças e jovens submetidos a estas condições estão nos países pobres ou em desenvolvimento.

O levantamento, elaborado pela seção britânica do Unicef, diz que ¿180 milhões de crianças e jovens menores de 18 anos enfrentam as piores condições de trabalho, executando tarefas de risco, enfrentando escravidão, trabalhos forçados, recrutamento forçado em exércitos, em prostituição e em outras atividades ilegais¿.

O estudo revela que 352 milhões de jovens entre 5 e 17 anos estão comprometidos em algum tipo de trabalho, dos quais 221 milhões trabalham em casas, em tarefas domésticas, ou no campo, em atividades agrícolas.

Só na África, a metade das crianças entre 5 e 14 anos está trabalhando, segundo o organismo da ONU encarregado da infância. Esta estatística é o resultado direto do impacto da pobreza sobre o trabalho infantil.

Nações ricas prometeram ajudar, mas poucas o fizeram

Na América Latina, 17% da população infantil trabalha, aponta o informe, ressaltando que as crianças ¿entram no mundo do trabalho e da exploração empurrados pela miséria e a baixa escolaridade¿. Esta situação é agravada pelos efeitos do vírus da Aids.

O Unicef cita ainda o exemplo de milhares de crianças e jovens trabalhando em minas na América Latina, ou as crianças-soldados, recrutadas em cruéis embates na África, onde as meninas são submetidas à exploração sexual, ou como operários em perigosas fábricas químicas na Ásia.

Mas, diz o relatório do Unicef, até mesmo nos EUA, o país mais rico do mundo, existem entre 300 mil e 800 mil crianças trabalhando em granjas, descendentes na maior parte dos casos de famílias hispânicas que emigraram para o país.

¿ Para pôr fim a essa exploração, é necessário acabar co a pobreza ¿ afirma o diretor-executivo da seção britânica do Unicef, David Bull, ao apresentar o estudo.

Bull chamou a atenção para o imenso trabalho que ainda está por ser feito ¿para proteger os direitos das crianças em todo o mundo¿ e conclamou os países a aumentarem a ajuda internacional contra o abuso e exploração infantil.

¿Bilhões de crianças em todo o mundo ainda estão vivendo na miséria e isso é uma injustiça inaceitável¿, diz o documento do Unicef, convocando os países ricos para ajudarem as nações mais pobres. ¿Há mais de 30 anos, os países ricos se comprometeram a dar 0,7% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em ajuda internacional, mas até o momento, só cinco países ¿ Dinamarca, Noruega, Holanda, Luxemburgo e Suécia ¿ estão cumprindo a promessa¿, aponta o documento.