Título: `HÁ UMA LUA-DE-MEL ENTRE BUSH E EUROPEUS¿
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Fonte: O Globo, 22/02/2005, O Mundo, p. 28

As relações entre o governo de George W. Bush e países europeus passam por um momento de tranqüilidade relativa, diz o cientista político americano Gary Smith, diretor da American Academy de Berlim. Em entrevista ao GLOBO, Smith adverte, porém, que americanos e europeus devem adotar uma posição mais flexível sobre o Irã, por exemplo, para que sua reaproximação seja consistente.

Bush anunciou uma nova aliança com a Europa. Ainda há algum obstáculo à reaproximação?

GARY SMITH: Há um clima de lua-de-mel entre Bush e europeus. Acho que os obstáculos são os próprios parceiros. Precisam ser pragmáticos, ouvir mais um o outro. A Europa precisa reagir a casos como a ameaça nuclear do Irã, por exemplo. E os americanos, por sua vez, precisam consultar mais os europeus. Veja o conflito entre Israel e palestinos, que os EUA não conseguiriam resolver sozinhos. Com a ajuda dos europeus, que têm mais poder de influência na região, a chance da paz é muito maior.

Os europeus apoiarão os americanos em relação ao Irã?

SMITH: Espero que os europeus sigam uma política mais rigorosa em relação ao Irã. Sobretudo os alemães, que têm responsabilidade histórica para com Israel. Sabemos que o Irã é uma ameaça a Israel, se tiver armas atômicas.

Bush tem encontros com Chirac, Schroeder e Putin, principais críticos da guerra no Iraque. Ele se arrependeu do confronto com europeus?

SMITH: Não acho que se trate de arrependimento. Bush tinha pouca experiência em política externa quando começou. Não avaliou direito a força do ¿não¿ europeu. Os europeus, por outro lado, começaram a entender que nenhum problema grave do mundo pode ser resolvido pelos EUA ou pela Europa, mas pelos dois juntos.

A cooperação nuclear da Rússia com o Irã poderá estragar a conversa de Bush e Putin?

SMITH: O tema será o principal da conversa. A cooperação é motivo de forte preocupação americana, mas imagino que Putin mostre sua intenção de cooperar com os americanos. Como, veremos nos próximos dias.

Os europeus concretizarão as promessas de mais ajuda aos americanos no Iraque?

SMITH: Com certeza, pois a estabilidade no Iraque é também do interesse europeu. Além disso, mesmo os mais céticos ficaram muito impressionados com as eleições do Iraque, ao ver como milhões arriscaram a vida para votar. Acho que depois disso mesmo França e Alemanha estarão dispostos a apoiar mais os americanos no Iraque.