Título: PROIBIÇÃO DA VENDA DE ARMAS DIVIDE BRASILEIROS
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Fonte: O Globo, 23/02/2005, O País, p. 9

Os brasileiros estão divididos em relação ao referendo marcado para outubro para decidir pela proibição ou não da venda de armas de fogo no país. Diferentemente do ano passado, quando havia um sentimento favorável ao fim do comércio de armas, pesquisa Sensus/CNT divulgada ontem mostra que o número de pessoas a favor da proibição caiu de 73,6% em março do ano passado para 48%, enquanto o percentual dos que são contra subiu de 23,4% para 48,8%. Ou seja, se o referendo fosse hoje, a proibição da venda de armas, um dos itens do Estatuto do Desarmamento, correria risco de não ser aprovado.

Para 80,2%, violência tem aumentado

Para Ricardo Guedes, cientista político do Instituto Sensus, a pesquisa mostra que, depois da mobilização pelo desarmamento, a população não percebeu um efeito prático na queda da violência e que o recolhimento de armas não resolveu o problema da segurança pública. Na pesquisa, 80,2% dos entrevistados disseram que a violência aumentou nos últimos seis meses e 5,9% acham que a situação melhorou.

¿ As pessoas percebem que não teve resultado o esforço de desarmamento, já que a violência continua alta ¿ diz Guedes.

O Ministério da Justiça informou, porém, que a campanha de desarmamento tem tido apoio popular e teria ajudado a reduzir a violência em algumas localidades. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, não fez comentários sobre o resultado da pesquisa. Segundo integrantes da equipe do ministro, ainda é cedo para se avaliar a campanha, mas tudo indica que a iniciativa tem sido bem recebida.

¿ A meta de arrecadação de 80 mil armas foi superada logo nos primeiros meses, e as secretarias de Segurança de alguns estados estão mostrando uma redução dos índices de violência por causa do recolhimento das armas ¿ disse uma assessora de Bastos.

Viva Rio: campanha reduz violência passional

Para o diretor executivo do Viva Rio, Rubem César Fernandes, o resultado da pesquisa reflete a frustração da população.

¿ A campanha foi e está sendo bem-sucedida, mas acho que gerou uma falsa expectativa de que iria reduzir a violência criminal ¿ disse Rubem César.

Segundo ele, a campanha recolhe armas de quem está disposto a entregá-las. Por isso, o principal reflexo é na redução da violência passional, relacional, e no número de acidentes com armas.

A pesquisa não abalou a esperança de Rubem César de que o povo referende o Estatuto do Desarmamento:

¿ Os últimos números davam como certa a aprovação da proibição. O resultado desta pesquisa foi bom para acordar quem está preocupado com o tema. A discussão é difícil mesmo e ainda há muito a fazer até o referendo.

Segundo o diretor executivo do Viva Rio, o atraso, ¿por motivos operacionais¿, no pagamento das indenizações a quem entrega as armas não interferiu no resultado da pesquisa CNT/Sensus, já que não é o dinheiro que motiva a maioria das pessoas a se desarmar.