Título: 2005, ANO DE EXTREMOS E CALOR SEM PRECEDENTE
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Fonte: O Globo, 26/01/2006, O Mundo / Ciencia e Vida, p. 30

Nasa diz que nenhum período foi mais quente. Clima severo também gera onda de frio

WASHINGTON. O ano passado foi o mais quente já registrado na História, informou ontem a agência espacial americana, a Nasa. Os cinco anos mais quentes desde o início dos registros climáticos modernos, em 1890 ocorreram nos últimos 10 anos, indício de uma preocupante tendência de aquecimento do planeta. Os anos com maior média de temperatura foram, em ordem decrescente, 2005, 1998, 2002, 2003 e 2004, informou a agência em um comunicado.

¿ É justo dizer que provavelmente é o ano mais quente desde o início dos registros meteorológicos modernos ¿ disse Drew Shindell, do Instituto Goddard de Estudos Espaciais, da Nasa. ¿ Usando medições indiretas que vão ainda mais longe, penso que também é justo dizer que é o ano mais quente em alguns milhares de anos.

Alguns pesquisadores acreditavam que 1998 permaneceria sendo o ano mais quente em razão do El Niño ¿ fenômeno climático determinado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico que eleva as temperaturas globais. Mas, segundo Shindell, o ano passado foi levemente mais quente do que 1998, mesmo sem qualquer evento climático extraordinário.

¿ Aquele ano anormalmente quente (1998) tornou-se o padrão ¿ afirmou Shindell. ¿ A velocidade de aquecimento foi tão rápida que esta temperatura que ocorreu apenas quando houve um El Niño muito forte foi registrada num ano sem qualquer distúrbio climático global.

Nos últimos 30 anos, a elevação média das temperaturas da Terra foi de 0,6 grau Celsius, de acordo com a Nasa. Nos últimos cem anos, o aquecimento foi de 0,8 grau. Shindell atribui o fato ao aumento das emissões de gases do efeito estufa. Ele afirmou que o século XXI poderá registrar um aumento da temperatura do planeta de três a cinco graus.

¿ Isso realmente vai nos levar às mais altas temperaturas que o mundo já experimentou provavelmente no último milhão de anos ¿ disse.

Europa enfrenta onda de frio intenso

A despeito da elevação média das temperaturas globais, o início deste ano vem sendo marcado por uma onda de frio polar dos mais intensos na Europa, com as mínimas variando de -10 graus Celsius a -40 graus Celsius. De acordo com especialistas, são as mais baixas temperaturas já registradas na região desde 1930. Pelo menos 200 pessoas já morreram em razão do frio. O frio severo é condizente com as previsões do impacto de mudanças climáticas associadas ao aquecimento global. As previsões incluem anos de extremos, como verões tórridos e invernos gelados.

Mesmo países mediterrâneos, onde os invernos costumam ser amenos enfrentam nevascas. Na Grécia, pelo menos 300 cidades tiveram ontem seu acesso bloqueado. A Acrópole foi fechada em razão da nevasca. No norte da Itália, as mínimas chegaram a 35 graus Celsius negativos.