Título: BRASILEIROS VOTAM EM PESO NO FATAH
Autor: Renata Malkes
Fonte: O Globo, 26/01/2006, O Mundo, p. 27

Mas houve quem hesitasse entre os 200 membros da comunidade

RAMALLAH, Cisjordânia. Se depender do voto verde-e-amarelo, o partido Fatah já tem lugar garantido no comando do governo palestino. A comunidade brasileira espalhada pelos arredores de Ramallah compareceu em peso às urnas na esperança de eleger um Parlamento que traga mais estabilidade e melhores condições sociais.

Mustafá Khaled Ghassan Dahla fez questão de acordar cedo, vestir-se elegantemente e convocar toda a família para depositar seu voto. Dahla nasceu em Ramallah e aos 18 anos foi morar com a família em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Depois de 42 anos no Brasil, voltou à terra natal em busca de sossego. Ele diz que o Fatah é o único partido capaz de melhorar a vida dos palestinos e que não teme a popularidade do grupo Hamas.

¿ O voto de hoje tem que ser uma festa. O povo quer paz, o Fatah quer paz e por isso terá meu apoio. O Hamas não me incomoda. Acredito que no fim das contas o Fatah vai se unir a outros partidos e deixar os radicais de fora. A vida aqui é boa, mas o conflito com os israelenses cansa, pois temos muitas dificuldades de nos locomover entre uma cidade e outra. Quando houver paz, a vida vai ser melhor, apesar de o Brasil ainda ser o melhor país do mundo ¿ afirma, em português fluente.

Dahla e a mulher, Lúcia, viajam frequentemente ao Brasil para visitar dois dos cinco filhos que moram em Uruguaiana. Para o casal, votar no Fatah é uma tradição entre os cerca de 200 membros da comunidade brasileira. Mas a gaúcha Fátima Judeh admite ter ficado indecisa até o último minuto. Há oito anos em Ramallah, ela mostra ceticismo quanto ao futuro.

¿ É difícil decidir. Sempre votei no Fatah, mas a verdade é que eles nunca fizeram nada. Eles não têm autoridade, falam muito e fazem pouco. Precisamos de medidas que ajudem nosso dia-a-dia, como facilidade para receber documentos e a retirada dos postos de controle ¿ afirma. (R.M.)