Título: BRANT APELA A NIETZSCHE; LUIZINHO, À MÃE
Autor: Isabel Braga
Fonte: O Globo, 27/01/2006, O País, p. 3

Emocionado, pefelista cita filósofos e poeta em sua defesa, e petista quase vai às lágrimas

BRASÍLIA. Os dois deputados cassados ontem usaram retóricas diferentes para tentar conquistar e convencer os conselheiros de sua inocência, antes da sentença final. Em discurso duro, Roberto Brant (PFL-BA) enfrentou e fez ataques frontais ao Conselho de Ética, negou acordão em seu benefício e disse estar certo de que será absolvido pelo plenário da Câmara. Professor Luizinho (PT-SP) optou pelo tom emocional. Quase às lágrimas citou a mãe, a mulher e os filhos, negou ter mentido e implorou várias vezes, desesperadamente, para que os conselheiros reconsiderassem.

Muito emocionado, Brant citou os filósofos Nietzsche e Schopenhauer e o poeta Dante para atacar a conduta de alguns conselheiros. Segundo ele, todos os deputados processados já chegam cassados ao Conselho.

¿ Todos já têm a predisposição para condenar, é só adequar o discurso ao voto de condenação. O maior inimigo das verdades são as convicções fortes demais. Para reconhecer a verdade é preciso um certo despojamento ¿ disse o pefelista, citando Nietzsche.

¿Piorei minha imagem como político, mas cresci como homem¿

O pefelista elogiou os parlamentares que defenderam sua absolvição e classificou-os de votos da coragem e da resistência em contraponto àqueles que sucumbem à pressão do voto aberto. Brant, que já anunciou que deixará a política, disse estar lutando para lavar sua honra e que não há quem possa levantar nada que o desabone na longa carreira pública. E avisou que não recorreria da decisão, ao contrário de Luizinho.

¿ Lutei para não sair menor desse processo. Piorei minha imagem como político, mas cresci como homem e no final o que eu sou é só isso, um homem ¿ afirmou.

Olhar compungido na direção dos conselheiros, o petista Luizinho chegou a ficar com a voz embargada ao comentar que perdeu o pai ao seis anos e, primogênito, viu a luta da mãe metalúrgica para criar os filhos e formá-lo professor. Em sua defesa, disse que não tomou conhecimento da intermediação dos recursos do PT para os vereadores do interior de São Paulo e nem deu autorização ao ex-assessor José Nilson para receber os R$20 mil do valerioduto.

¿ Não participei desse processo e quem participou disse que eu não participei. Perdi meu pai aos 6 anos, mamãe tinha 22 anos, sou o filho mais velho. Ela, metalúrgica, lutou com muita dificuldade para me fazer professor. Eu não faria isso com minha mãe e muito menos com minha mulher e meus filhos, eu não menti. Vejam nos autos, por favor! ¿ apelou Luizinho.

O processo de Brant deverá ser o primeiro a ser levado ao plenário, já que ontem ele anunciou que não recorrerá da decisão do Conselho. Luizinho irá recorrer à Comissão de Constituição e Justiça.

O deputado Orlando Fantazzini (PSOL-SP) reagiu ao discurso de Brant, acusando-o de ter sim usado caixa dois na campanha à Prefeitura de Belo Horizonte em 2004.

¿ Isso é uma questão de valores, e os valores dele não são os meus. Ele declarou que a Usiminas o procurou e fez uma doação através da SMP&B, que não foi contabilizada. Isso para mim é fraude. Foi pesado o discurso para quem tem os mesmos valores éticos deles. Para mim é errado. Todos que estão nessa situação tentam pressionar mesmo ¿ afirmou Fantazzini. (Isabel Braga)