Título: Menos dois na lista
Autor: Isabel Braga
Fonte: O Globo, 27/01/2006, O País, p. 3

Conselho de Ética aprova cassação dos mandatos de Roberto Brant e Professor Luizinho

Mais dois deputados acusados de envolvimento no valerioduto, um da oposição e um da base governista, tiveram os processos de cassação do mandatos aprovados ontem no Conselho de Ética. O Conselho pediu a cassação do ex- ministro do governo Fernando Henrique Cardoso Roberto Brant (PFL-MG), e o do ex-líder do governo Lula Professor Luizinho (PT-SP). A votação de Brant, marcada por uma manobra do PSDB, foi apertada, e o placar de 7 a 7 levou o presidente do Conselho, deputado Ricardo Izar (PTB-SP) a votar pela cassação.

Luizinho conseguiu 5 votos a seu favor, entre eles um do PFL e um do PSDB. Mas 9 conselheiros o condenaram. Ele promete seguir o ex-deputado José Dirceu e recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra a decisão e atrasar o julgamento no plenário.

Para a votação do processo de Brant houve até troca de nomes. O deputado Gustavo Fruet (PR) ¿ que votou a favor da lista que incluiu Brant entre os beneficiados pelo esquema do valerioduto ¿ renunciou à vaga no Conselho. Em seu lugar, assumiu Jutahy Magalhães (BA). Ele admitiu que o PSDB teve dificuldades em arranjar o substituto para ocupar a vaga de Fruet, mas negou que tenha concordado em votar a favor do colega por pressão do partido.

¿ Só vim só para votar nesse processo, mas a minha convicção é de que ele não cometeu nada que fira a conduta ética. Não está neste esquema montado pelo PT. Se for condenar o caixa dois, tem que condenar todo mundo ¿ justificou Jutahy.

Relator discute com o líder do PFL

O deputado Alberto Goldman (SP), mesmo ressalvando que não falava como líder do PSDB, defendeu o pefelista e disse que o Congresso perderia com sua saída. Brant é acusado de receber R$102 mil da Usiminas, por meio da empresa de publicidade SMP&B, do empresário Marcos Valério Souza, e não contabilizá-los em sua campanha. Goldman alegou que o recurso tem origem privada e não foi para uso próprio.

O relator do processo, Nelson Trad (PMDB-MS) rebateu Goldman e acabou num acalorado bate-boca com o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).

¿ Vossa Excelência está extrapolando a suas funções de relator. Ele só defendeu um ponto de vista, não lhe ofendeu ¿ disse Maia.

¿ Vossa Excelência manda na sua bancada. Aqui sua voz é pífia ¿ reagiu o relator, acrescentando que a voz de Maia o incomodava.

¿ Tenho direito a falar aqui e o senhor não é melhor do que ninguém ¿ retrucou Maia

Também no julgamento de Luizinho houve troca de farpas entre o relator, Pedro Canedo (PP-GO), e o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). O petista leu recortes de jornais para mostrar que Canedo mudou o voto em razão de pressões. Canedo reagiu, disse que a imprensa se equivocou e lembrou que Pimenta foi flagrado com a lista de novos beneficiários do esquema entregue pelo empresário Marcos Valério na garagem do Senado.

Além dos votos de três deputados do PFL e dois do PSDB, Brant contou com votos da base aliada: a petista Ângela Guadagnin (SP) e Benedito de Lyra (PP-AL). Luizinho teve votos favoráveis do tucano Bosco Costa (SE) e dos pefelistas Jairo Carneiro (BA) e Edmar Moreira (MG), ao lado da petista Ângela e de Benedito de Lyra. Os votos contribuíram para que, mesmo com a cassação aprovada, não ficasse afastada a hipótese de tentativa de um acordão para livrar os deputados processados no Conselho de Ética.

Para Chico Alencar (PSOL-RJ), as duas votações mostram influência dos grandes partidos:

¿ Não há provas ( de acordão), mas se tem orelha de coelho, feição de coelho, jeito de coelho, a população fica autorizada a imaginar que há lebre na cartola ¿ afirmou Alencar.