Título: Palocci rebate acusações de corrupção e atribui denúncias à disputa eleitoral
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 27/01/2006, O País, p. 4

Na CPI dos Bingos, ministro tenta descolar sua imagem da de ex-assessores

BRASÍLIA. Em mais de seis horas de depoimento na CPI dos Bingos, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, rebateu ontem as denúncias de corrupção contra ele tentando descolar sua imagem da de seus ex-assessores na Prefeitura de Ribeirão Preto. Repetiu diversas vezes que não pode ser responsabilizado pelas atitudes de aliados do passado, preservou os atuais assessores e disse que as acusações são fruto de disputas locais, que vêm à tona em período eleitoral. Palocci afirmou que os assuntos reapareceram porque seus adversários acreditam que ele será candidato, o que nega.

Mais uma vez, chegou à CPI cercado de sua equipe. Sorridente, cumprimentou senador por senador. Levou uma pilha de documentos, mas usou poucos para tentar convencer a comissão de que são falsas denúncias como a de que sua gestão teria recebido R$50 mil de propina da empresa Leão Leão.

¿ Se tivesse acontecido, eu saberia ¿ afirmou ele.

Perguntado se tinha pego carona no avião do empresário Roberto Colnaghi, Palocci respondeu que sim, na campanha de Lula, mas nunca como ministro. Lembrado que o empresário disse à CPI ter cedido a aeronave a ele em 2003, quando já ocupava o cargo, argumentou que a viagem era para compromisso do PT e que por isso não poderia ter usado um avião oficial.

O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) rebateu dizendo que a cessão do avião ao partido não consta da contabilidade eleitoral do PT. Segundo ele, favores como esse devem ser declarados como doação na Justiça Eleitoral. Palocci alegou que o PT tinha divulgado nota reconhecendo o uso do avião.

Ao fim do depoimento, a oposição repetiu que Palocci teve bom desempenho, como nas outras visitas. Mas criticou o fato de ele preservar antigos assessores, como Rogério Buratti, que o acusou de receber a mesada de Ribeirão Preto. A seguir, trechos do depoimento de Palocci:

MENSALÃO EM RIBEIRÃO PRETO: ¿Quero, de forma oficial e categórica, dizer que isto não ocorreu. Admito que possa ter acontecido alguma irregularidade durante minha gestão relacionada a algum funcionário, mas o pagamento (de propina) durante dois anos, eu saberia. Não há hipótese de ocorrer uma coisa dessas sem que eu saiba. Não é verdadeiro¿.

DENÚNCIAS DE RIBEIRÃO PRETO: ¿(As denúncias) têm muito a ver com as brigas políticas locais. Agora, como sou ministro da Fazenda, voltam à tona. Com isso, faz-se um barulho nacional, acusa-se pessoas, destróem reputações. É luta política, guerrilha entre partidos . O meu (o PT) também faz isso¿.

ERVILHAS: Ao comentar uma denúncia sobre irregularidades na compra de latas de ervilha para merenda escolar, disse: ¿Essas ervilhas me perseguem há quatro anos¿.

CANDIDATO: ¿Todas as vezes que dizem que você está candidato, estes assuntos reaparecem. Não sou candidato, não nesta eleição¿.

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA: ¿Eles (seus ex-assessores) procuraram estabelecer trabalhos aqui em Brasília. É natural que busquem trabalhar próximo. Mas não posso responder pelas atividades dessas pessoas, não têm relacionamento com as minhas atividades¿.

DÓLARES DE CUBA: ¿Desconheço. Participei ativamente da campanha do presidente Lula. Não houve dinheiro de Cuba nem de outros países. Não sei o que significa esta viagem. É um caso um pouco fantasioso¿.

VLADIMIR POLETO: Em resposta ao senador José Jorge, que insistia em saber porque Poleto, ex-funcionário da Prefeitura de Ribeirão Preto, precisou de um avião para transportar três caixas de uísque supostamente contendo dólares vindos de Cuba. ¿Era um funcionário da prefeitura. Nunca conversei com ele e ele já foi transformado num importante assessor meu !¿

GTECH x CAIXA: ¿Não participei desse caso. Empresas vinculadas ao ministério têm vida própria, seu cotidiano não é acompanhado pelo ministro. Indevido seria intervir. Hoje, posso dizer que a conduta da diretoria foi exemplar. A Caixa não aditou o contrato porque quis. Era fazê-lo ou suspender todas as loterias do país¿.

PROCESSOS: ¿Muitas pessoas me ofenderam. Não penso que caiba ao ministro sair processando todo mundo. Não vou processar, pelo menos durante as investigações. Depois...¿

ASSESSORES: ¿Se uma pessoa foi meu assessor há dez anos, não posso responder pelo que ela fez ano passado. Vou ter que olhar agora o que os meus assessores farão no futuro?¿.

NOMEAÇÕES: ¿Existem 250 mil funcionários (ligados à Fazenda). Não nomeio todos. Nomeei seis secretários (a equipe econômica), pelos quais assumo a responsabilidade integral e acho que fui muito feliz. Abaixo deles não nomeei ninguém¿.

CAIXA DOIS: ¿O que o presidente Lula disse (na entrevista em Paris) foi que acontece (caixa dois) no Brasil, não que considerava normal. Nunca participei de caixa dois¿.

BINGUEIROS ANGOLANOS: Palocci negou ter negociado a doação de US$1 milhão com bingueiros angolanos para campanhas do PT em troca da promessa de que o futuro governo legalizaria o jogo. ¿A informação é falsa. Nunca houve compromisso de legalização. Não conheço doação para a campanha de Lula e nunca sequer fiz uma reunião para tratar de bingos¿.

CULPA: ¿Não culpo os jornalistas nem os vereadores que fazem denúncia. Fui um vereador muito chato também. Sei o que fiz e o que não fiz. E sei que não cometi malfeitorias que tentam me atribuir¿.

ADHEMAR PALOCCI: ¿Jamais pediria demissão se o meu irmão fosse convocado a depor. Isso seria usar a força econômica (de seu cargo) para constranger o trabalho da comissão¿.

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