Título: FH: `SERRA SERÁ O CANDIDATO SE O POVO QUISER¿
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 27/01/2006, O País, p. 5

Ex-presidente almoça com Tasso e Aécio para definir critérios da disputa entre prefeito e Geraldo Alckmin

SÃO PAULO. Árbitro importante na escolha do candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que caberá ao povo definir o nome do tucano que disputará a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. Na porta de sua casa, depois de um almoço com o presidente do partido, o senador Tasso Jereissati (CE), e com o governador de Minas, Aécio Neves, Fernando Henrique afirmou que ¿se o povo quiser¿, Serra será candidato.

¿ O Serra será candidato se o povo quiser que ele seja. Ele é uma pessoa responsável. Se o povo quiser, não haverá desgaste ¿ disse o ex-presidente, afastando qualquer possibilidade de divisão interna do partido com eventuais prévias entre Serra e o governador Geraldo Alckmin, que também disputa a indicação do PSDB.

Tasso afirma que Serra é candidato

Quando chegou ao almoço, Tasso contou que conversou com Serra na última sexta-feira, e não pestanejou em lançar seu nome, embora o prefeito tenha evitado assumir a intenção de disputar a eleição.

¿ Claro que ele é candidato. Tanto o prefeito José Serra quanto o governador Geraldo Alckmin são candidatos, sim ¿ disse, ainda mais enfático quando perguntado se Serra já teria se colocado à disposição:

¿ Não precisa essa explicitação dele.

Na mais recente pesquisa do Ibope o prefeito tem 31% das preferências do eleitor, contra 35% de Lula num eventual primeiro turno. Na simulação com Alckmin, o desempenho do presidente é ainda melhor: 38% contra 17% para o tucano.

Depois do almoço, que durou quatro horas, Fernando Henrique fez uma ressalva sobre os critérios para a escolha do candidato tucano.

¿ Pesquisa só, não. A pesquisa é um elemento disso, uma fotografia do momento e é mutável. Escolheremos em função da capacidade política, aceitação da sociedade, é tudo mais complexo.

Tasso foi cauteloso:

¿ Procurei Serra e conversamos bastante. Ele não está definido, tem bastante dúvida. Não é uma questão simples, mas ele está aprofundando. Tem que maturar bastante. Além disso, falta avaliação mais profunda tanto dele como do partido ¿ explicou Tasso.

Bancadas parlamentares serão consultadas

Serra disse ontem que não comentaria as declarações do presidente da legenda. A assessoria de Alckmin divulgou nota elogiando o encontro:

¿A coordenação do processo partidário está em boas mãos (...) O PSDB vai sair unido e fortalecido desse processo e vai oferecer ao país um grande projeto de governo para fazer o Brasil crescer e gerar emprego e renda.¿

Os tucanos já não consideram mais como grande problema o fato de Serra ter de entregar a prefeitura ao PFL, caso seja o escolhido:

¿ Se as coisas convergirem em torno do prefeito José Serra, esse é o preço que se pagará ¿ afirmou o governador Aécio Neves.

No almoço, os tucanos também conversaram sobre o argumento de que o governador está no último ano de mandato e sua indicação seria um caminho natural. Ao contrário de Serra, que está na prefeitura há um ano e assumiu o compromisso de não abandonar o posto.

¿ Uma candidatura à Presidência tem que ter presente uma boa dose de naturalidade e, sobretudo, tem que trazer consigo o partido unido ¿ argumentou Aécio.

Fernando Henrique concordou:

¿ É natural mesmo (a candidatura de Alckmin). Já está terminando o mandato. É natural.

Mas antes de qualquer decisão, dirigentes tucanos disseram que serão ouvidos representantes das bancadas regionais e federal. Uma enquete realizada pelo GLOBO na semana passada mostrou acirramento na disputa: Alckmin teve 33 votos da bancada do PSDB na Câmara e no Senado, e Serra, 22.

Ainda na porta do prédio, Fernando Henrique disse que não concorrerá mais a nenhum cargo eletivo e defendeu a manutenção do sistema de reeleição.

¿ Pessoalmente, sou favorável à reeleição, mas vejo que é uma tese que vem ganhando corpo. Lula foi contrário. Serra foi contrário. Tem que se examinar, mas não sou favorável ao fim da reeleição.