Título: Correios: auditoria acha rombo de R$152 milhões
Autor: Adriana Vasconcelos e Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 27/01/2006, O País, p. 10

Em depoimento à CPI dos Correios, ministro diz que 17 diretores e servidores já foram afastados por irregularidades

BRASÍLIA. Em depoimento ontem na subcomissão de normas de combate à corrupção da CPI dos Correios, o corregedor-geral da União, ministro Waldir Pires, disse que nos Correios a CGU já instaurou 32 processos e sindicâncias, afastou 17 diretores e servidores e encontrou um prejuízo estimado em R$152 milhões. Segundo ele, esses são apenas alguns dos dados colhidos por auditoria promovida pela CGU dentro dos Correios depois das primeiras denúncias de corrupção na estatal.

¿ O país hoje tem uma indústria de notas fiscais frias ¿ lamentou o ministro, ao defender o trabalho de fiscalização da CGU nas prefeituras brasileiras.

O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), sub-relator da CPI dos Correios responsável pelas investigações nos fundos de pensão, decidiu ontem convocar o dono do banco Santos, Edemar Cid Ferreira, para prestar depoimento na CPI. Neto vai apresentar um requerimento que deve ser votado pela comissão na semana que vem. Os parlamentares querem entender os investimentos feitos pelos fundos de pensão no falido Santos.

Investidor acusa petistas de influenciaram nos fundos

Só a Real Grandeza, fundação dos servidores de Furnas, teve um prejuízo de R$150 milhões com os investimentos feitos em papéis do banco. A Núcleos, entidade dos funcionários de estatais na área nuclear, também teve problemas com a compra de títulos do banco no valor de R$7 milhões.

Ontem, em depoimento na CPI, o investidor Alexandre Athayde Francisco que diz ter sido sócio do corretor Haroldo Almeida Rego, o Haroldo Pororoca, um dos investigados pela CPI, acusou, sem apresentar provas, petistas de influenciarem na gestão dos fundos. O investidor apresentou ainda um dossiê à CPI com supostas irregularidades em fundos. Entre os elementos, está uma fita que, segundo ele, mostraria dois ex-dirigentes da Cedae discutindo o levantamento de recursos para a campanha da então governadora Benedita da Silva em 2002 no Rio. Os parlamentares ainda não ouviram a fita.

Athayde acusou, por exemplo, o ex-assessor da Casa Civil e ex-secretário de comunicação do PT, Marcelo Sereno, de, junto com Pororoca, de ter influenciado a compra de papéis do Santos pela Real Grandeza, mesmo quando todo o mercado já suspeitava que o banco iria quebrar. Athayde acusou ainda, também sem apresentar elementos, o ex-ministro Luiz Gushiken de ter influenciado a Previ na operação de venda de ações da Acesita para o grupo belga Arcelor.

Deputado pede proteção policial para testemunha

As declarações de Athayde incentivaram Neto a convocar Ferreira e reforçaram a decisão do deputado de chamar para depor também Sereno. No final do depoimento, o deputado pediu proteção policial para o investidor que diz já ter sido ameaçado de morte e admite que teve uma disputa comercial com Pororoca.

¿ Alexandre comprometeu de forma categórica o PT dizendo que eles usavam o senhor Haroldo de Almeida Rego para obter recursos nos fundos e trouxe uma fita que teria um pedido de propina de ex-dirigentes da Cedae. As acusações serão agora investigadas pela CPI ¿ afirmou Neto, que vai submeter a fita a perícia.