Título: DESTINO DO FSM PODE SER FRENTE INTERNACIONAL
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 27/01/2006, Economia, p. 22

Aumenta em Caracas a articulação para originar um movimento de esquerda mundial

CARACAS. Cresce a idéia de o Fórum Social Mundial se transformar numa frente mundial de esquerda. Ontem, um dos líderes intelectuais do encontro, o egípcio Samir Amin, defendeu a recriação do internacionalismo de esquerda, mais aberto, no entanto, que as antigas internacionais socialistas. Amin disse que a esquerda da América Latina é hoje a mais avançada do mundo.

Amin veio da outra edição do FSM, em Bamako, na África, e trouxe um documento com as propostas de integração do FSM, que ganharam lá a adesão de pelo menos 100 redes mundiais de organizações. Durante a edição de Caracas, os partidários de Amin farão assembléias para conquistar adeptos.

O intelectual disse ontem ao GLOBO que a proposta apresentada por ele em Bamako será discutida também na edição venezuelana do evento e possivelmente no Fórum Social Mundial que acontecerá em dois meses no Paquistão. Também fundador do FSM, o italiano José Luiz Del Roio afirmou que não se trata de criar uma divisão, mas de buscar convergências.

O documento foi lançado primeiro no Fórum Mundial de Alternativas, uma rede de organizações, no dia 19, em Bamako, como um apelo aos demais participantes do FSM. O movimento, no entanto, ganhou mais fôlego em Caracas.

¿ Não se trata de criar a quinta Internacional Socialista, mas uma movimento que garanta a multiplicidade de pensamentos do Fórum Social Mundial ¿ disse Amin.

Do lado venezuelano, a pressão para que o FSM amplie sua ação política também aumentou. Os venezuelanos não participaram diretamente da fundação do FSM, mas ganharam espaço com a realização de uma etapa do evento em seu país.

Ontem, em outro evento sobre o futuro da esquerda no mundo, o intelectual venezuelano Edgardo Lander disse que foi criada no FSM uma ¿mitologia da sociedade civil¿, na qual haveria necessariamente uma separação entre a sociedade e os partidos políticos, partindo do pressuposto que os partidos, mesmo de esquerda, estariam contaminados.

Jacobo Torres, da organização do FSM, disse que o dilema do fórum, sobre apoiar ou não os governos de esquerda, é falso.

¿ A obrigação primeira dos movimentos é fazer pressão sobre os governos, cobrá-los muito, mesmo os que estejam à esquerda. Agora, é preciso saber compartilhar quando eles acertam. No nosso caso, temos um ¿louco¿ aqui, chamado Hugo Chávez, que tem feito o que nós, movimentos, pedimos. Não vejo porque não poderíamos trabalhar com ele ¿ disse Torres.(S.A.)