Título: CHINA DOMINA REUNIÃO SOBRE COMÉRCIO BRASILEIRO
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 27/01/2006, Economia, p. 25

Diretor da Fiesp classifica país de ameaça para o Brasil, mas cônsul alerta sobre riscos de postura protecionista

NOVA YORK. Não há mais debate sobre economia sem que a China entre no meio. Num café da manhã ontem no Conselho das Américas, em Nova York, o tema era a perspectiva para o comércio brasileiro em 2006, mas foi a China que acabou dominando. O diretor de Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, disse que a China é uma ameaça e defendeu que o Brasil adote salvaguardas para se defender das práticas desleais usadas pelos chineses no comércio internacional.

¿ Os chineses são os reis da pirataria, invadem nossos mercados fazendo dumping sem constrangimento, desrespeitando a propriedade intelectual, valendo-se do câmbio fixo e subvalorizado. Nós tememos a ameaça chinesa porque eles têm um comportamento desleal ¿ disse Giannetti, alertando que essas práticas podem acabar com milhares de empregos no Brasil.

Já o cônsul brasileiro em Nova York, José Alfredo Graça Lima, especialista em comércio internacional, tem uma posição oposta. Para ele, o Brasil ficaria extremamente vulnerável se tomasse qualquer medida protecionista:

¿ Qualquer restrição à China provocaria retaliações, e esse é um mercado que ninguém pode perder. Com todos os outros países podemos viver sob as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio), mas a China é diferente e temos de aprender a conviver com ela.

Para Graça Lima, Brasil vai ganhar se reduzir superávit

Mas tanto Gianetti quanto Graça Lima estão otimistas sobre o desempenho brasileiro no comércio exterior. O empresário previu exportações em torno de US$120 bilhões e um superávit comercial entre US$25 bilhões e US$27 bilhões ¿ abaixo dos US$40 milhões de 2005 devido à expectativa de alta das importações e apreciação do real. Graça Lima ressaltou que o Brasil terá um bom desempenho, independentemente do resultado das negociações na OMC e do fim da Rodada de Doha, que prevê a liberalização do comércio internacional. Para o diplomata, superávit não é mais sinal de saúde econômica:

¿ O Brasil tem muito a ganhar se reduzir o superávit. Devemos importar mais para exportar mais.