Título: TERROR E ASSISTENCIALISMO
Autor:
Fonte: O Globo, 27/01/2006, O Mundo, p. 26

Criado durante a primeira intifada, Hamas prega fundação de Estado Islâmico na Palestina histórica

Criado em 1987, o Hamas une assistência social a pregação radical religiosa, mas é mais conhecido pelos sangrentos ataques terroristas contra civis no território israelense.

Hamas é uma palavra árabe que significa ¿zelo, fervor¿, mas também é uma sigla para Movimento de Resistência Islâmico. Criado pelo xeque Ahmed Yassin, o grupo tem suas raízes na Irmandade Muçulmana (IM), organização religiosa surgida nos anos 1920 no Egito que pregava a adoção de preceitos islâmicos e se opunha a governos árabes laicos.

O xeque Yassin entrou para a IM em 1955. Ele organizou o grupo, criando um sistema assistencialista e de educação religiosa em Gaza. As ações aumentaram a popularidade do grupo, apesar de ele não participar do nacionalismo na Organização para a Libertação da Palestina. Neste período, o grupo chegou a contar com a simpatia de Israel, já que dividia o movimento de Yasser Arafat.

Com o passar dos anos, o grupo foi se afastando da política tradicional da IM, de resistência religiosa passiva. O grupo se voltava cada vez mais para a causa específica palestina. A Carta do Hamas diz que ele é ¿o braço palestino da Irmandade Muçulmana¿ nos territórios ocupados, mas tinha objetivos claramente diferentes da IM. Como criação de um Estado na terra da Palestina histórica. Não só era uma convocação para a luta contra Israel, mas contra a secular OLP, já que prega a criação de um Estado islâmico.

O grupo continuou agindo em dois planos. Abertamente, construía escolas, hospitais e angariava apoio popular. Secretamente, estruturou grupos armados, que, inicialmente, atacavam colaboradores de Israel e pessoas ¿fora dos preceitos islâmicos¿, como traficantes e prostitutas.

Os primeiros soldados israelenses foram assassinados em 1989. O grupo usou como desculpa para os primeiros ataques com homens-bomba o massacre de 29 muçulmanos em Hebron, por um colono judeu, em 1994. Em 1996, uma série de ataques suicidas interrompeu as negociações de paz e ajudou a eleição de Benjamin Netanyahu como premier de Israel.

O grupo nega atacar civis, pois, em sua lógica radical, diz que ¿num Estado em que há serviço militar obrigatório não há civis.¿ Em comum, Hamas e o premier eram contra os Acordos de Oslo. A resposta violenta de seu governo ajudou o crescimento da popularidade do Hamas.

Em março e abril de 2004, ataques israelenses mataram o xeque Yassin e seu substituto, Abdel Rantissi. A vingança prometida pelo Hamas não veio e muitos consideraram que o grupo estava desarticulado. Desde 2005, o Hamas diz estar em trégua com Israel. Com a vitória eleitoral, espera-se o próximo passo do grupo, que não aceita abandonar as armas