Título: BUSH É OBRIGADO A MODERAR CRÍTICAS
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 27/01/2006, O Mundo, p. 27

Defesa de democracia no Oriente Médio faz presidente evitar condenar vitória do Hamas

WASHINGTON. Ao constatar que a vitória do grupo radical Hamas, considerado um grupo terrorista pelos Estados Unidos, ocorreu de forma democrática nas eleições palestinas, o presidente George W. Bush ¿ que fez da implantação da democracia no Oriente Médio a principal meta de sua política externa ¿ não teve outra saída ontem a não ser adotar um tom conciliatório ao comentar o resultado da eleição.

Ele disse que notara ¿algo de saudável¿ no debate eleitoral e que o povo palestino se expressara livremente, mostrando que está descontente com a situação atual. Bush considerou o resultado como sendo mais ¿um sinal de alerta aos líderes da velha guarda palestina¿, imersa na corrupção, do que uma forma de protesto contra o processo de paz patrocinado pelos EUA.

Ele fez dois apelos. Um deles a Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, que diante da expressiva vitória da oposição poderia renunciar ao seu posto. Bush insistiu para que ele permanecesse no governo, para ¿tocar o processo de paz (com Israel) adiante¿. Essa permanência serviria, também, como um canal diplomático ¿ talvez o único ¿ ligando os EUA e o governo palestino.

O outro apelo foi feito clara e diretamente ao Hamas, embora Bush evitasse utilizar o nome. Ele sugeriu ao grupo que renunciasse ao discurso de que prega a destruição de Israel.

¿ Não vejo como pode ser um parceiro na paz quem advoga a destruição de um país. E eu sei que não se pode ser um parceiro na paz um partido que tem uma ala armada ¿ disse Bush.

Bush não diz se cortará auxílio à ANP

Cauteloso, ele evitou dizer categoricamente se os EUA cortarão a ajuda financeira que dá à ANP ou se evitaria negociar com um novo governo liderado pelo Hamas:

¿ Ainda não está formado um novo governo lá e, portanto, vocês estão me pedindo para especular sobre como ele será. No entanto, eu deixei claro que não vamos lidar com um partido político que articula a destruição de Israel como parte de sua plataforma ¿ disse Bush, em entrevista na Casa Branca.

Ele refutou a opinião de que o resultado era um novo revés para sua política para o Oriente Médio onde, nos últimos 12 meses, os opositores da doutrina Bush se deram melhor. No Irã foi eleito um presidente linha-dura. No Iraque, partidos religiosos islâmicos passaram a dominar o governo. No Líbano, o Hezbollah aumentou a sua bancada parlamentar. E no Egito quem se deu melhor foi outro grupo radical: a Irmandade Muçulmana.

A secretária de Estado, Condoleezza Rice, comentou a eleição palestina numa vídeo-conferência do Forum Econômico de Davos. Ela disse que democracia e terrorismo são incompatíveis. E completou:

¿ A democracia traz não apenas direitos como também obrigações e responsabilidades. Uma delas é que é preciso ser um lutador pela paz e não pela guerra ou pela violência.