Título: COM SERRA E ALCKMIN, CONVERSA SOBRE FUTEBOL
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 28/01/2006, O País, p. 3

Corinthians reúne presidente e tucanos que querem sucedê-lo

SÃO PAULO. Em solo corintiano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em sua passagem pelo Parque São Jorge, onde inaugurou ontem o Memorial do Corinthians, que o governo deve ter responsabilidade sobre as dívidas dos clubes de futebol de todo o país. Ao lado do prefeito de São Paulo, José Serra (um palmeirense roxo), e do governador de São Paulo e torcedor do Santos, Geraldo Alckmin, pré-candidatos do PSDB à Presidência, Lula disse que ¿salvar o futebol¿ não é só responsabilidade da direção dos times.

¿ Alguns times brasileiros fazem parte do patrimônio cultural deste país e, portanto, não podem simplesmente fechar sem que o Estado assuma a responsabilidade de tentar criar condições para que possam pagar suas dívidas ¿ disse Lula.

No encontro de ontem, apenas Lula discursou. Antes de chegarem ao salão principal do clube, o presidente, Serra e Alckmin, acompanhados de dirigentes do Corinthians, visitaram o memorial.

¿ Era uma conversa descontraída, eles só falaram e brincaram sobre futebol ¿ contou o senador Romeu Tuma (PFL-SP).

No subsolo do Parque São Jorge, Lula, Serra e Alckmin visitaram as salas onde está toda a história de 95 anos do clube. Os três trocaram abraços e apertos de mãos durante o descerramento de uma placa comemorativa e por 30 minutos assistiram a um filme sobre as conquistas do Corinthians.

Enquanto Lula fixava o olhar nas imagens, Serra e Alckmin desviavam a atenção em conversas paralelas. Ao final da exibição, o governador parabenizou o presidente.

¿ Sou santista, mas tenho em casa um filho que é corintiano roxo. Além disso, o Corinthians fez uma boa campanha. Mas em 2006 a vez é do Santos ¿ brincou Alckmin, que dava entrevista na porta do clube enquanto Serra deixava o local sem falar com a imprensa.

O último encontro entre o presidente, o governador e o prefeito ocorreu em agosto do ano passado, durante o velório do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes.

O presidente destacou que hoje país do futebol é aquele que tem dinheiro para comprar os atletas brasileiros.

¿ Muitas vezes é fácil dizer: ¿Mas os times são administrados por pessoas que passam a mão no dinheiro do time¿. Esta é a forma mais fácil de dizer ¿eu não quero fazer nada¿. A forma mais importante é dizer que se o nosso time tem problema, nós temos que consertá-lo ¿ enfatizou o presidente.

Para Lula, eventuais novos títulos internacionais dependem de cooperação entre as diferentes esferas de governo, dirigentes do setor e empresários.

¿ Quero assumir a responsabilidade junto com os clubes de futebol, com prefeitos, governadores, empresários para que a gente assuma de uma vez por todas a responsabilidade de salvar o futebol brasileiro e fazer a ele justiça pelos títulos que temos em nível internacional.

Lula lembrou ainda das críticas que o governo recebeu quando decidiu lançar o Timemania, uma loteria em que o dinheiro arrecadado com a venda de bilhetes seria investido nos clubes.

Com um discurso voltado exclusivamente à exaltação do Corinthians e aos problemas vividos no setor, Lula deixou de lado as diferenças partidárias. Chegou a mencionar uma conversa que teve com Serra sobre a venda do jogador palmeirense Alex para a Turquia.

¿ Dizia para o prefeito Serra que o Alex é um verdadeiro deus na Turquia, e o Serra me dizia que é uma pena que a Turquia, um país mais pobre que o Brasil, tenha dinheiro para manter um jogador como o Alex ¿ contou Lula, para em seguida brincar com o fato de o jogador Marcelinho Carioca, quando jogava no Corinthians, ter perdido um pênalti para o Palmeiras.

¿ Quase tive um infarto.