Título: CPI apura fraude de R$30,9 milhões no BB
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Fonte: O Globo, 28/01/2006, O País, p. 8

Reportagem da revista `Época¿ revela operações fraudulentas do banco com o doleiro Lúcio Funaro em 2003

Relatório sigiloso da CPI dos Correios revela fortes indícios de que durante o governo petista o Banco do Brasil perdeu R$30,9 milhões em operações fraudulentas na Bolsa de Mercadoria e Futuros (BM&F). A informação está na edição da revista ¿Época¿ que chega às bancas hoje. De acordo com a reportagem, o maior beneficiário dessas transações foi o doleiro paulista Lúcio Bolonha Funaro, de 32 anos e patrimônio declarado de R$12 milhões, já investigado pelos parlamentares da comissão por suspeita de fraudes com fundos de pensão.

CPI suspeita que doleiro é dono da Guaranhuns

A CPI aponta Funaro como o real dono da corretora Guaranhuns, empresa de fachada ligada ao PL que serviu de canal para a transferência de R$6,5 milhões do PT para o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), que renunciou ao mandato depois que a informação foi revelada. Uma das suspeitas da CPI, diz a reportagem, é que Funaro seja um especialista em intermediar o desvio de dinheiro público pelo mercado financeiro.

Segundo a revista, Funaro e o Banco do Brasil fizeram entre janeiro e novembro de 2003 onze operações de swap, um tipo de aplicação no mercado financeiro voltado para proteção do patrimônio do investidor de riscos. Nessas operações, diz o relatório da CPI, o BB teria aceitado receber juros abaixo do preço de mercado. Além disso, o doleiro operava por intermédio da corretora São Paulo, denunciada em maio passado por suspeita de manipulação do mercado com transações em dólar. Em abril de 2004, cinco meses depois do último negócio feito com o BB, a corretora São Paulo foi descredenciada da relação de instituições com as quais o banco tem relacionamento.

Banco está envolvido também no caso Visanet

O BB já apareceu nas investigações da CPI. A comissão mostrou que a diretoria de marketing da instituição antecipou a uma das empresas de Marcos Valério pagamento de R$10 milhões, por serviços de publicidade prestados à empresa de cartão de crédito Visanet. Esse adiantamento, apura a comissão, pode ter sido uma das fontes do valerioduto, que sustentava o pagamento do mensalão a parlamentares governistas.

As operações de Funaro com o BB envolveram também as corretoras Link Derivativo e Link CM, dos irmãos Marcello e Daniel Mendonça de Barros (filhos do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros) e banco holandês ING. A reportagem afirma que ¿todos ganharam dinheiro, menos o BB¿. Segundo a revista, a Link negou que conheça Funaro e afirmou que não o tem como cliente, apresentando carta da BM&F para confirmar.

Comissão apura ligação com irregularidades no Prece

O doleiro, de acordo com as investigações da CPI, leva uma vida de playboy, freqüenta a noite paulista sempre em carros importados e acompanhado de belas mulheres. Os documentos obtidos pela revista listam entre os clientes de Funaro os jogadores de futebol Edmundo, Marcelinho Carioca e Rivaldo.

Segundo a CPI, Funaro também tem boas relações com políticos: até o ano passado o doleiro pagava mensalmente em Brasília aluguel de R$2.200 e condomínio de mais de R$600 para o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ligado ao ex-governador Anthony Garotinho. Para a comissão, o doleiro também tem ligações com irregularidades ocorridas no Prece, fundo de pensão da estatal fluminense controlada por Garotinho.