Título: ESTATÍSTICA MOSTRA AVANÇO DA DENGUE NO RIO
Autor: Luiz Ernesto Magalhães
Fonte: O Globo, 28/01/2006, Rio, p. 15

Índice de crescimento da doença no estado é o 2º maior do país, com 41,44% nas 3 primeiras semanas do ano

Enquanto 22 estados registraram redução no número de casos de dengue nas três primeiras semanas de 2006, em comparação ao mesmo período do ano passado, no Rio e em apenas mais quatro unidades da federação (Brasília, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais) o número de infectados pelo mosquito Aedes aegypti aumentou. Os dados, sujeitos a revisão, foram divulgados ontem pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Percentualmente, o Rio, que registrou um crescimento de 41,44% no número de casos (de 222 para 314), só perde para Brasília (55,56%).

Estatística da prefeitura mostra que situação é pior

As estatísticas não revelam toda a extensão do problema, já que ainda não registram óbitos, como o caso de Ivonete Lopes dos Santos, de 45 anos, que morreu no dia 9 passado e teve o diagnóstico confirmado na quarta-feira pela Secretaria municipal de Saúde do Rio. Em novo boletim divulgado ontem, a prefeitura informava que o total de casos já chegava a 389 ¿ mais que o divulgado pelo Ministério da Saúde. A região da Barra e de Jacarepaguá encabeça o número de notificações com 257 casos ¿ ou 66% do total. A situação pode piorar com o temporal que caiu na noite de ontem e favorece o aparecimento de novos focos.

Nos estados cujos índices cresceram, outros dois municípios, além do Rio, registram surtos de dengue em alguns bairros: Goiânia (GO) e Aparecida de Goiânia (GO).

A situação no Rio é considerada tão preocupante que a Procuradoria Regional da República e o Ministério Público do Estado entraram ontem na Justiça federal com ação civil, com pedido de liminar, na qual reivindicam que a prefeitura do Rio contrate em regime de urgência agentes em número suficiente para combater os focos de Aedes aegypti. Reportagem do GLOBO mostrou ontem que, em 2002, a prefeitura estimou que precisaria contratar 3.700 auxiliares de controle de endemias para combater os focos. O concurso público foi feito, mas até ontem a Secretaria municipal de Saúde contava com apenas 989 mata-mosquitos.

Na ação, os autores pedem para que a prefeitura indique quantos agentes precisa ter a mais para combater os focos do mosquito de forma mais eficiente E que esse pessoal seja admitido em no máximo 30 dias seja por concurso ou contratação temporária. Na representação, eles citam dados fornecidos pela prefeitura, de outubro, que indicam que apenas 11 bairros teriam índices de infestação pelo Aedes aegypti inferiores a 1%, como recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Em 86 bairros, o índice seria maior que 5,83%. O subsecretário municipal de Saúde, Mauro Marzochi, porém, afirma que esses percentuais são bem menores.

Segundo Marzochi, as estatísticas informadas ao MP se referiam não às taxas de cada bairro. Seriam na verdade estatísticas sobre a existência de mosquitos nos trechos de maior índice de infestação de cada região. A prefeitura promete divulgar dados atualizados depois de amanhã.

Copacabana terá campanha no dia do show dos Stones

Marzochi não quis comentar a ação judicial porque a prefeitura ainda não foi notificada. Ele minimizou o aumento do número de casos em relação às primeiras semanas de 2005:

¿ Em janeiro do ano passado registramos o menor número de casos de dengue para esta época em 18 anos ¿ disse.

Ontem, agentes da prefeitura percorreram 105 quiosques da Barra distribuindo panfletos e orientando os comerciantes sobre a doença. O trabalho na orla prossegue até o fim de fevereiro. No dia 18, será feita uma grande campanha de divulgação em Copacabana, aproveitando a mobilização para o show dos Rolling Stones.

O secretário estadual de Saúde, Gilson Cantarino, divulgou o balanço do segundo dia de atuação dos bombeiros no combate a focos do mosquito na Barra. Ao todo, 11.399 imóveis foram vistoriados e 401 focos eliminados. Em 415 residências, os agentes não conseguiram entrar: em 396 não havia ninguém e em 19 os moradores não permitiram a entrada.