Título: INFLAÇÃO MOVIDA A ÁLCOOL
Autor: Carlos Vasconcellos e Juliana Rangel
Fonte: O Globo, 28/01/2006, Economia, p. 21

Combustível tem alta de 9,2% para consumidor e IPCA-15 atinge 0,51% em janeiro

Oacordo fechado no último dia 11 entre governo e usineiros para congelar o valor do litro do álcool no atacado ¿ e evitar assim pressões sobre a inflação ¿ ainda não surtiu efeito, e o produto continua a impulsionar os índices de preços. No IPCA-15, que mede a inflação ao consumidor, divulgado ontem pelo IBGE, o álcool teve o maior peso (de 0,10 ponto percentual) na alta de 0,51% da inflação em janeiro, contra 0,38% de dezembro. O reajuste do produto no período chegou a 9,22%.

O aumento ainda não reflete inteiramente o efeito do acordo de preços, já que a medição foi feita pelo IBGE entre 14 de dezembro e 13 de janeiro, mas o combustível deve seguir pressionando a inflação nos próximos meses. Para a economista Clarice Messer, diretora do Instituto Fecomércio-RJ, a combinação de altas do álcool e do açúcar no mercado internacional deve impedir quedas mais fortes no preço do produto.

¿ O álcool preocupa porque o momento é favorável para os usineiros, mas não para quem queira manter o preço em um patamar compatível com uma inflação em queda ¿ observou Clarice. ¿ Na verdade, as condições do mercado estão na contramão do acordo do governo com os usineiros.

A terceira prévia do IPC da Fipe, que mede a inflação ao consumidor na cidade de São Paulo, confirma a tendência. O índice de preços apresentou alta de 0,62% ¿ contra 0,59% da semana anterior ¿ e o item transportes, que inclui o álcool, teve uma alta de 0,99%.

No Rio, produto sobe 3,8% na semana

Pesquisa divulgada ontem pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostra que os preços do álcool combustível continuam subindo no município do Rio de Janeiro. O aumento atingiu 3,8% desde o último domingo até ontem. O litro nos postos da cidade passou de R$1,787 para R$1,855 no período. A pesquisa nacional mostrou que, em todo o país, o preço ficou praticamente estável (queda de 0,05%).

Para o ex-diretor do Banco Central e professor do Ibmec Carlos Thadeu de Freitas, a pressão do álcool sobre a inflação deve durar até o fim do primeiro trimestre, quando acaba a entressafra da cana-de-açúcar. Ele acredita que a elevação do preço do combustível será pontual.

¿ Não há demanda para sustentá-la ¿ justifica o economista.

Segundo ele, a alta da inflação no começo do ano leva o governo a intervir menos no câmbio, para usar o dólar baixo como âncora para evitar o descontrole dos preços.

¿ A inflação do trimestre deve consumir de 30% a 35% da meta do IPCA para o ano (4,5%) ¿ disse Carlos Thadeu. ¿ Mas não deve fazer o Banco Central reduzir a velocidade dos cortes nos juros.

Ele observa, no entanto, que essa alta no trimestre ¿ reforçada pela elevação no preço dos alimentos e por reajustes no setor de serviços ¿ pode reduzir o ritmo de crescimento da economia.

¿ A inflação diminui o poder de compra, tira dinheiro da economia. É como um imposto. Isso deve afetar o crescimento no período.

O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, não se surpreendeu com a alta do IPCA-15 em janeiro, e também não acredita que o resultado vá levar o Banco Central a mudar sua estratégia. Segundo ele, não há motivo de preocupação, apesar dos temores do mercado devido à elevação no núcleo por exclusão (que retira do cálculo as maiores variações positivas e negativas) do IPCA-15 em janeiro, que foi de 0,70%.

Cresce conversão de carros para gás

A subida de preços do álcool não apenas pressionou a inflação. Ela também fez aumentar o número de conversões de veículos bicombustível para o uso do gás natural. Em São Paulo, as conversões já cresceram 40% em 2006. No Rio, o número aumentou 30% no período.

¿ Enquanto o álcool estava em uma faixa de preços mais razoável, com uma diferença maior para a gasolina, o usuário não se preocupava muito em buscar outra alternativa. No momento em que o álcool subiu, ele ficou sem escolha. Por isso, os usuários de veículos flex se voltaram para o GNV ¿ disse R.Fernandes, coordenador do comitê de Gás Natural Veicular do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás Natural (IBP).

(*) Do Globo Online, com a COLABORAÇÃO de Ronaldo D'Ercole