Título: SIDERÚRGICA MITTAL OFERECE US$22,8 BI POR RIVAL
Autor: Graça Magalhães Ruether
Fonte: O Globo, 28/01/2006, Economia, p. 24

Compra da Arcelor criaria gigante responsável por 10% da produção de aço e permitiria maior controle de preços

BERLIM, LONDRES, PARIS, BRUXELAS, RIO e SÃO PAULO. A maior siderúrgica do mundo, a Mittal Steel, fez uma oferta hostil (não solicitada) de 18,6 bilhões de euros (US$22,8 bilhões) pela Arcelor, a segunda do ranking. Se o negócio for fechado, o novo gigante do aço deve superar todos os superlativos, produzindo mais de cem milhões de toneladas métricas de aço, ou 10% do total mundial.

A Mittal, com sede em Roterdã, na Holanda, ofereceu ágio de 27% sobre o valor de fechamento dos papéis da Arcelor na quinta-feira. Em dinheiro, serão pagos no máximo 4,7 bilhões de euros (US$5,7 bilhões). Com a operação, a Mittal ficará ainda mais rica: estima-se uma redução de custos de cerca de um bilhão de euros (US$1,2 bilhão) por ano. O presidente da Mittal, Lakshmi Mittal, liderou um movimento de consolidação na indústria siderúrgica, mas ainda assim os dez maiores grupos respondem por cerca de 30% do mercado global.

¿A Arcelor ressalta o caráter hostil dessa oferta, que ocorre sem discussões prévias ou consultas entre as duas empresas¿, disse a Arcelor, com sede em Luxemburgo, em uma nota.

Para analistas, ao aumentar a consolidação em um setor muito fragmentado, a Mittal pode conseguir resolver o problema de excesso de capacidade em épocas de desaceleração econômica. Além disso, as siderúrgicas ficariam fortalecidas para negociar tanto matéria-prima com fornecedores quanto aço com seus clientes, como montadoras de automóveis. A Mittal tem indústrias em 14 países.

¿ Isso obviamente aumenta a pressão para as outras siderúrgicas se consolidarem ¿ disse Michael Tappeiner, analista do banco West LB. ¿ A consolidação é positiva para o valor do aço porque, provavelmente, haverá mais disciplina na produção e na formação de preços.

Essa também é a posição de Cristiane Viana, analista de siderurgia da corretora Ágora Senior. Ela afirma que a operação deve animar os investidores minoritários, que poderão ter vantagens na venda de seus papéis ao novo controlador (tag along). Cristiane também acredita que a consolidação do mercado será boa para o Brasil. Em julho, a Arcelor reorganizou seus ativos no país, criando a Arcelor Brasil, com a união de Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Belgo Mineira e Vega do Sul, com capacidade anual de produção de 11 milhões de toneladas. A Arcelor ainda tem participação controladora na produtora brasileira de aços especiais Acesita.

A consolidação global preocupa os compradores de aço, principalmente montadoras. A francesa Peugeot-Citroën disse estar atenta aos acontecimentos no setor e que já está preocupada com a concorrência na indústria. A alemã Porsche, por sua vez, afirmou não estar preocupada no momento, pois firmou contratos de longo prazo para a compra de aço.

A Companhia Vale do Rio Doce, maior produtora mundial de minério de ferro, disse que, se for fechada, a operação vai fortalecer o setor siderúrgico e beneficiar as empresas de mineração. O presidente da Vale, Roger Agnelli, disse à Bloomberg News que a fusão não vai provocar uma queda nos preços do minério de ferro, pois a equação entre a oferta e a procura não será alterada.

¿ A consolidação é saudável para todos ¿ disse Agnelli. ¿ Esse é um jogo de gigantes. Aqueles que não procurarem adquirir escala e eficiência vão ficar fora do mercado.

Apesar da resistência do presidente da Arcelor, Guy Dolle ¿ que não aceitou a proposta, dizendo que não via a fusão de forma positiva ¿ o presidente da Mittal anunciou ontem sua oferta aos acionistas da rival. Lakshmi Mittal teria 51% da nova empresa. A notícia fez as ações de Mittal e Arcelor saltarem até 41% nas bolsas européias, e o pregão chegou a ser interrompido. As ações da Arcelor acabaram fechando em alta de 28%, a 28,5 euros. Já as da Mittal subiram 6%, para 27,6 euros.

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), os papéis da Arcelor Brasil foram o centro das atenções, com alta de 14,23%. A oferta da Mittal impulsionou outras ações do setor, como as da Companhia Siderúrgica Nacional ON (5,29%), da Acesita PN (3,07%) e da Gerdau Metalúrgica PN (2,52%).

Lakshmi Mittal disse em Londres que não pretende elevar a oferta à Arcelor, mas que essa hipótese não está descartada.

COLABORARAM Erica Ribeiro e Paula Dias (Globo Online), com Bloomberg News e agências internacionais