Título: INDÚSTRIA MOSTRA INDÍCIO DE RETOMADA
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 28/01/2006, Economia, p. 25

Sondagem da CNI revela que, com queda de estoque, produção pode subir

BRASÍLIA. A indústria nacional, embora ainda não tenha retomado seus melhores momentos de otimismo, experimentou no quarto trimestre do ano passado leve recuperação da atividade econômica ¿ mas nada ainda na intensidade alegada pelo governo federal. Indicação disso foi dada na sondagem qualitativa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada ontem, mostrando que os estoques das empresas recuaram no período, um movimento identificado pela primeira vez em dois anos. Eles, no entanto, ainda não estão em níveis considerados adequados, mas demonstram que, por exemplo, as vendas estão aumentado.

Para as grandes empresas, numa escala de 1 a 100 pontos, o indicador ficou em 46,1 pontos, o que significa que mais companhias conseguiram reduzir seus estoques do que as que mantiveram ou aumentaram. Para as pequenas e médias, o índice foi de 48,8 pontos, revertendo a situação que vinha desde o início do ano passado, com estoques em alta.

¿ As empresas fecharam o ano com estoques acima do planejado, mas estão diminuindo. Isso abre espaço para algumas aumentarem a produção (o que gira a economia) ¿ explicou o gerente-executivo da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento da CNI, Renato da Fonseca.

A entidade ouviu, entre os dias 4 e 24 de janeiro, 1.452 empresas em todo o país, sendo 212 de grande porte (com mais de 500 empregados) e 1.240 de pequeno e médio portes.

Otimismo menor do que no início de outros anos

Outro sinal positivo captado na sondagem industrial foi o uso da capacidade instalada. No trimestre passado, as grandes empresas tinham 81% da sua capacidade produtiva em uso, 2 pontos percentuais a mais do que no trimestre anterior. Para as pequenas e médias, o número subiu de 69% para 71%. Mesmo assim, o indicador está abaixo dos vistos no fim de 2004, com 83% para as grandes e 74% para as pequenas e médias.

Para Fonseca, isso se deve à maturação dos investimentos feitos em 2004 e certa postergação dos previstos para o ano passado, uma vez que a economia brasileira não cresceu como o esperado. No início daquele ano, falava-se numa expansão de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país), mas o número deve ficar em apenas 2,5%, segundo o mercado.

¿ A frustração com o ano (2005) foi muito grande ¿ resumiu o gerente da CNI.

A sondagem industrial da CNI mostrou ainda que o empresário brasileiro começa 2006 menos otimista do que em outros inícios de ano. O indicador de expectativa para os próximos seis meses ficou em 66,1 pontos, o menor para o mês de janeiro desde 1999, que foi de 53,6 pontos. Foi naquele ano que houve a maxidesvalorização do real. A escala vai de 1 a 100 mas, neste caso, quanto mais próximo do teto, melhor é a projeção.

Expectativa de manutenção do nível de emprego

A médio prazo, no entanto, a CNI espera que o humor do empresariado melhore, devido às expectativas mais positivas de crescimento da economia para 2006, com a tendência de redução da taxa básica de juros ¿ hoje em 17,25% ao ano ¿, maiores gastos do governo (ano eleitoral), entre outros. De modo geral, a recuperação se dará pelo mercado interno, mas com maior velocidade no segundo semestre. No começo do ano, a CNI avalia que a indústrias continuarão focadas em reduzir seus estoques.

¿ Estamos abrindo terreno para crescer. Espero que na próxima sondagem (de abril), números melhores venham ¿ afirmou Fonseca.

O levantamento de agora mostrou também que existe a projeção de leve crescimento do faturamento neste semestre (55,5 pontos, contra 53,1 pontos de outubro) no setor. Outro dado positivo, ressaltou Fonseca, é a expectativa de manutenção do nível de emprego, interrompendo três meses de estimativas negativas. Para as exportações, a expectativa é praticamente de manutenção, também interrompendo meses de projeções negativas.