Título: ATUAÇÃO DO PAÍS NA OMC SOB ATAQUE
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 28/01/2006, Economia, p. 27

Ativistas do Fórum Social acusam governo de se aliar ao imperialismo

CARACAS. A atuação do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) foi o novo alvo das críticas dos participantes do Fórum Social Mundial. A ativista americana Lory Wallach, do Public Citizen, grupo aliado de Noam Chomski, disse ao ministro Luiz Dulci, da Secretaria-Geral da Presidência, que o Brasil chocou as organizações mundiais de esquerda ao fazer um pacto com o ¿triângulo do imperialismo¿ (Estados Unidos, Japão e Europa) para ajudar a salvar a ¿organização mundial mais criticada pela sociedade civil por excluir os pobres¿.

Dulci argumentou que governos de esquerda não podem seguir a mesma lógica de organizações sociais e defendeu ¿internacionalismo de esquerda¿.

¿ Quando a OMC estava à beira do precipício, em Hong Kong, os Estados Unidos convenceram o Brasil e a Índia a salvá-la. Parece que o governo brasileiro prefere a OMC do que uma opção menos conhecida. Parece que está havendo no Brasil uma contradição entre a sociedade civil e o governo ¿ disse Lory ao ministro, durante um debate sobre a construção de uma nova ordem econômica mundial.

O filósofo egípcio Samir Amin, que vem criticando duramente o governo Lula, afirmou ontem que não se convenceu com as argumentações do ministro. Segundo Amin, o Brasil perdeu a oportunidade de tirar o setor de agricultura e de serviços da agenda da OMC, como reivindica o movimento mundial do campesinato.

¿ Essa colaboração do Brasil com a OMC não é boa. Isso tudo (o que Dulci argumenta) é blablablá ¿ disse o filósofo.

O ministro frisou que está em curso um movimento mundial inovador em busca de uma nova ordem, que já funciona como uma espécie de internacionalismo de esquerda.

¿ O internacionalismo se dá na sociedade civil, mas também nos governos. As vitórias eleitorais da esquerda na América Latina, na Ásia e na África traduzem, sim, um novo internacionalismo, que, no entanto, nem sempre pode andar junto com a sociedade civil ¿ afirmou o ministro.

Ideologia não é mais doutrinária, diz Dulci

Dulci ressaltou ainda que neste internacionalismo de esquerda, governo e movimentos têm objetivos comuns, mas papéis muito diferentes. Segundo ele, não há mais a ideologia estratificada ou doutrinária. Com isso, também não haveria mais formação de blocos pelo aspecto político doutrinário, como antigamente.

¿ A resposta para este tipo de problema (comercial) não pode mais ser nacional, por mais que nossos governos quisessem. Isto está sendo enfrentado com o G-20. Não podemos nos unir apenas com aqueles com quem temos identificação ideológica. Os acordos não se dão pelo ideal, mas pela democracia e com regras determinadas. Nossa lógica de G-20 é mais criativa que antes, que era doutrinária.