Título: ARGENTINA: PACOTE CONTRA ALTA DA CARNE
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 28/01/2006, Economia, p. 28

Para conter avanço da inflação, governo Kirchner vai controlar exportações

BUENOS AIRES. Em meio a uma dura queda-de-braço com os produtores de carne, o governo do presidente argentino, Néstor Kirchner, anunciou ontem a implementação de medidas para evitar que o preço do produto continue aumentando no mercado interno. Segundo confirmou a ministra da Economia, Felisa Miceli, a partir de agora os exportadores de carne deverão pedir autorização ao Ministério da Economia cada vez que queriam realizar uma operação no exterior.

¿ Estamos anunciando a criação de um registro de exportadores de carne, cada um deles (dos exportadores) deverá obter uma autorização para exportar. Essa orientação buscará articular a demanda internacional com a demanda interna e assim garantir o abastecimento (do mercado local) a preços aceitáveis ¿ explicou Felisa.

A medida caiu como um balde de água fria para os produtores, que segunda-feira passada negaram-se a assinar um acordo com o governo para congelar o preço da carne no mercado interno, nos moldes dos entendimentos assinados por empresas fabricantes de alimentos e produtos de limpeza, entre outros. Depois de ter fechado o ano passado com inflação de 12,3%, o governo Kirchner lançou uma ofensiva contra o reajuste de preços de forma a evitar que este ano a inflação supere os dois dígitos. De acordo com relatório do Banco Central argentino divulgado ontem, em 2006 o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) deverá oscilar entre 8% e 11%.

¿ Desde o fim da conversibilidade (regime que atrelou o peso ao dólar) o preço da carne no varejo aumentou 74%, duplicando o aumento da inflação ¿ enfatizou a ministra da Economia, que assumiu o cargo em novembro passado.

Inflação ajudou a derrubar Lavagna, antecessor de Felisa

O antecessor de Felisa, o ex-ministro Roberto Lavagna, não conseguiu conter a disparada dos preços. Por esse e outros motivos, o presidente pediu sua renúncia.

¿ No atacado, desde a desvalorização (do peso) a carne subiu 165% ¿ declarou Felisa, tentando justificar a aplicação de uma medida que, na visão de alguns economistas argentinos, não resolverá o problema.

Kirchner pediu recentemente aos produtores ¿que sejam solidários com o povo argentino¿. Já as câmaras do setor exigem do governo a redução dos impostos à exportação de carne como condição para congelar o preço do produto no mercado interno. Alguns produtores ameaçaram realizar uma greve nas próximas semanas, caso não se chegue a um acordo com o governo.

¿ Graças à recuperação da economia, a demanda interna passou de 55 quilos de carne por pessoa (por ano) para 65 quilos. Entre 2003 e 2005, as exportações passaram de US$500 milhões para US$2,4 milhões. São duas boas notícias para os produtores ¿ assegurou Felisa, que pediu ¿preços razoáveis para os argentinos¿.

¿ Não podemos permitir que o preço internacional seja parâmetro para estabelecer o preço interno ¿ argumentou a ministra.