Título: Israel tenta convencer Ocidente a suspender ajuda a palestinos
Autor:
Fonte: O Globo, 28/01/2006, O Mundo, p. 30

EUA anunciam revisão de todos os programas de assistência à ANP, enquanto Europa condiciona doações a medidas como o desarmamento do Hamas

JERUSALÉM. Israel iniciou ontem uma ampla campanha diplomática com o objetivo de convencer o Ocidente a isolar o Hamas até que o movimento radical islâmico ¿ vencedor das eleições legislativas palestinas ¿ desarme sua milícia e reconheça o Estado israelense. A chanceler Tzipi Livni pediu que a comunidade internacional não aceite um governo liderado pelo grupo, que prega a destruição de Israel e cometeu quase 60 atentados suicidas contra israelenses nos últimos anos. Já o primeiro-ministro interino, Ehud Olmert, declarou:

¿ O Hamas não é um sócio para a paz. Israel e o mundo vão ignorar esse governo, que será, portanto, irrelevante.

Israel obteve imediatamente o apoio de seu maior aliado na comunidade internacional, os EUA. O Departamento de Estado americano informou que vai rever todos os programas de ajuda aos palestinos.

¿ Para ser bastante claro, não fornecemos dinheiro a organizações terroristas ¿ disse o porta-voz Sean McCormack.

Merkel vai segunda-feira a territórios palestinos

McCormarck afirmou que todos entendem que os palestinos são pobres e precisam de ajuda, mas acrescentou que a ajuda financeira americana obedece a leis e políticas. Segundo ele, a questão será discutida segunda-feira em Londres com os outros três membros do quarteto que tenta negociar a paz no Oriente Médio: ONU, União Européia e Rússia.

Na Europa, governantes foram praticamente unânimes ao condicionarem a ajuda a uma administração palestina liderada pelo Hamas a uma decisão do grupo de desarmar sua milícia e reconhecer o Estado israelense. Segunda-feira, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, será o primeiro líder do Ocidente a visitar os territórios palestinos após a vitória do Hamas nas eleições. Mas pretende se encontrar apenas com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, e não com dirigentes do grupo radical islâmico.

A União Européia (UE) responde pela maior parte da ajuda aos palestinos: 500 milhões de euros no ano passado. Mas desde 1993 os palestinos já receberam mais de US$1,5 bilhão em ajuda econômica dos EUA por meio da Agência para Desenvolvimento Internacional americana.

Apesar da campanha israelense contra o Hamas, uma pesquisa do jornal ¿Yedioth Ahronoth¿ mostrou que 48% dos israelenses são favoráveis ao diálogo com uma administração palestina liderada pelo grupo radical, enquanto 43% são contra. Uma outra pesquisa, do ¿Maariv¿, indicou que 40% a 50% dos israelenses apóiam negociações com o Hamas

Palestinos estariam praticamente falidos

Em Jerusalém, o premier Olmert telefonou ontem para o presidente do Egito, Hosni Mubarak, e para o rei da Jordânia, Abdullah, para discutir a vitória do Hamas e a ajuda aos palestinos. Também no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), o tema foi debatido, e Israel questionou a assistência à ANP.

¿ Vamos enfrentar problemas práticos sobre como lidar com pessoas que defendem a destruição de Israel ¿ disse Joseph Bachar, diretor-geral do Ministério das Finanças israelense.

Presente ao debate, o ministro da Economia palestino, Mazen Sinokrot, disse que a ANP enfrentará sérios problemas financeiros se Israel suspender semana que vem o envio de US$40 milhões a US$50 milhões mensais relacionados a salários de palestinos, medida que, segundo ele, seria um convite à violência.

Ex-chefe do Banco Mundial e hoje enviado do Ocidente ao Oriente Médio, James Wolfensohn afirmou durante o debate que os doadores internacionais interromperão a ajuda aos palestinos se houver uma incerteza política na região, e acrescentou:

¿ No momento os palestinos estão praticamente falidos.