Título: Mudança na regra estimula partidos a lançar candidaturas presidenciais
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 29/01/2006, O País, p. 4

Fim da verticalização das alianças pode levar a cenário semelhante ao de 1989

BRASÍLIA. A aprovação da emenda constitucional que acaba com a regra da verticalização na formação das alianças partidárias vai resultar na ampliação do número de candidatos às eleições presidenciais de outubro. Os concorrentes ao Palácio do Planalto não deverão chegar aos 21, como em 1989, mas também não serão apenas seis, como ocorreu em 2002 com a verticalização vigorou. Partidos que não tinham condições de entrar na briga, pois queriam fazer nos estados coligações diferentes das alianças nacionais, agora estão livres. Com isso, a polarização entre o PT e o PSDB será diluída por um número ainda indeterminado de candidaturas ¿ ao lado desses dois, outros sete devem disputar.

Pequenos partidos já anunciam que vão concorrer

Além do PMDB, que tem prévias marcadas para 19 de março, muitos pequenos partidos deverão ter candidatos. O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), considera que sua candidatura foi reforçada. O líder do PV, deputado Sarney Filho (MA), afirma que seria positivo para a causa da defesa do meio ambiente uma candidatura presidencial.

O presidente do PDT, Carlos Lupi, diz que sós ou em aliança os trabalhistas terão representante. A senadora Heloísa Helena (AL) já é pré-candidata do PSOL. A disputa poderá ter ainda os candidatos dos nanicos de extrema-esquerda: Rui Pimenta, do PCO, e José Maria, do PSTU.

¿ Com o fim da verticalização vamos ter mais candidatos que o previsto. Não há possibilidade de a disputa ser definida no primeiro turno ¿ prevê o deputado Jutahy Junior (BA).

PMDB é maior beneficiário da mudança na regra

O PMDB, que pretende manter o poder em sete estados, e tem grandes chances de ganhar em outros sete, foi o grande beneficiário do fim da verticalização. Poderá fazer alianças com o PSDB ou com o PT nos estados e lançar um candidato a presidente, que, no mínimo, se transformará em peça decisiva no segundo turno:

¿ A força da candidatura própria fez com que os 78 deputados do PMDB votassem pelo fim da verticalização ¿ afirma o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), que passou os últimos meses lutando pela candidatura própria.

Até a semana passada, Lula não tinha possibilidade de coligação com o PTB e o PP, devido às alianças destes partidos nos estados com o PSDB e o PFL. Agora estão abertas as portas para o entendimento. Com o PP é um pouco mais difícil: há profunda divisão entre aliados dos tucanos e do presidente Lula. Mas com o PTB pode ter jogo.

¿ É cedo para falar de coligação com o presidente Lula ¿ diz o líder na Câmara, José Múcio (PE).

O fim da verticalização pode ter um gosto amargo para o PT. Antes, os petistas não precisariam debater política de alianças, pois dificilmente o PTB, o PP e o PL renunciariam a projetos eleitorais estaduais para apoiar a reeleição de Lula. Agora que isso é possível, haverá embate entre os defensores de uma aliança puro-sangue, só com os tradicionais aliados, PSB e PCdoB e, no máximo, o PL, parceiro de 2002, e os que pregam alianças mais amplas.

¿ O PT vai decidir se é conveniente fazer alianças com partidos que não pregam o mesmo conteúdo ideológico, mas que apóiam um programa de governo comum ¿ diz o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP).