Título: MAU TEMPO
Autor:
Fonte: O Globo, 29/01/2006, Opinião, p. 6

Oano de 2005, ao que tudo indica, foi o mais quente da História, ou desde que são mantidos registros de temperatura, de acordo com a Nasa. E o calor vai continuar aumentando: neste século, na estimativa de Drew Shindell, do Instituto Goddard de Estudos Espaciais, da Nasa, a temperatura média do planeta vai subir de 3 a 5 graus Celsius

Esta, na realidade, é a visão otimista. Para o cientista James Lovelock, guru dos ambientalistas, o aquecimento será bem mais intenso, podendo chegar a oito graus na Europa. E dificilmente, diz ele, a civilização sobreviverá a essa catastrófica mudança climática.

É certo que as idéias de Lovelock, por mais prestígio que ele tenha, estão sendo encaradas com boa dose de ceticismo. Mas se o aquecimento global não levará a esse desfecho ¿ ou se isso levará mais tempo para acontecer ¿ é igualmente certo que a temperatura do planeta está subindo continuamente, embora isso não signifique calor crescente e uniforme. Significa, isto sim, alterações climáticas imprevisíveis, que podem ser da maior violência, como furacões de intensidade sem precedentes e ondas de frio extremo, como a que afeta hoje a Europa e já matou mais de 200 pessoas.

Há portanto motivos de sobra para preocupação ¿ e para uma urgente ação coordenada dos governos. Desta, infelizmente, por enquanto só se viu um tímido esboço: o Tratado de Kioto, hoje em vigor mas sem perspectivas reais de fazer alguma diferença significativa no processo desencadeado pelo efeito estufa. Este tem origem na emissão de gases de origem industrial ou qualquer outra, principalmente o dióxido de carbono; Kioto estabelece metas de contenção que, a esta altura, são absolutamente insuficientes. E mesmo assim o tratado foi rejeitado pelo país que emite um quarto do total dos gases, os Estados Unidos.

A visão apocalíptica de Lovelock pode ser um exagero. Mas terá vindo em boa hora se ajudar a criar o alarme que deflagre uma mobilização geral. Porque se é incerto o que ainda pode ser feito com alguma perspectiva de êxito, pode-se afirmar com segurança que a pior atitude é a inação que tem como base uma visão otimista absolutamente injustificada.