Título: CÚPULA TUCANA TRABALHA PARA ENVOLVER PARTIDO NA ESCOLHA DO CANDIDATO E EVITAR DESGASTE
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 29/01/2006, O País, p. 10

PSDB vai organizar eventos com a presença dos dois pré-candidatos. Líderes alertam para risco eleitoral de um racha

BRASÍLIA. Os primeiros sinais de recuperação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas de intenção de voto para as eleições de outubro fortalecem, no PSDB, a pré-candidatura do prefeito de São Paulo, José Serra. Mas o partido quer exercer ao máximo a democracia interna, com uma maratona de debates, seminários e uma série de pesquisas cruzadas dentro e fora de São Paulo, para avaliar a situação de Serra e o potencial de crescimento de uma eventual candidatura do governador Geraldo Alckmin.

Tanto Serra ficou mais forte internamente que não é à toa que o presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador mineiro Aécio Neves já tentam minimizar o eventual desgaste político que poderá representar a renúncia de Serra à prefeitura paulistana.

Embora o partido ainda esteja dividido entre os nomes de Serra e Alckmin, a avaliação feita por Tasso, Fernando Henrique e Aécio é a de que o prefeito está hoje mais preparado para o embate com Lula, que promete ser duríssimo. Em pesquisas internas, o prefeito teria garantido uma vantagem de 18 pontos percentuais em relação a Lula num eventual segundo turno entre os dois.

Mas antes da decisão, os dirigentes do PSDB têm consciência de que precisam avaliar melhor as chances de Alckmin, que pode se beneficiar por ser uma novidade no cenário político. O partido vai promover uma rodada de consultas internas. A partir desta semana, Aécio deverá procurar os demais governadores tucanos. Já Tasso pretende conversar com os parlamentares e os dirigentes estaduais.

Faz parte do esforço para que a base do PSDB não se sinta desprestigiada ou interprete a escolha do candidato como uma imposição da cúpula. Aliás, este foi um dos problemas enfrentados pelo partido em 2002, quando setores não se engajaram na campanha de Serra.

O governador do Ceará, tucano Lúcio Alcântara, alerta exatamente para o risco de um grupo pequeno tomar tal decisão sem respaldo da base:

¿ O mais adequado seria buscar um colegiado que tivesse recolhido tendências e não expressasse a própria opinião ¿ pondera o governador, que pede também maturidade aos concorrentes:

¿ Os dois querem e só há uma vaga. Isso não pode virar um Fla-Flu.

A maior preocupação no comando tucano é o desgaste da disputa interna entre Serra e Alckmin até o dia da definição do candidato. Os dois foram avisados desse risco na última semana e teriam concordado em administrar as respectivas tropas para evitar confrontos públicos. Na tentativa de mostrar harmonia entre os dois pré-candidatos, o PSDB está organizando uma série de eventos em que eles deverão aparecer lado a lado. O primeiro já foi marcado: será um seminário sobre política monetária previsto para o próximo dia 17 de fevereiro.

¿ É preciso criar uma blindagem contra um eventual racha. Mesmo porque nossos pré-candidatos têm ciência de que, ao contrário do que aconteceu com o ex-presidente Fernando Henrique, o PSDB não têm o grande trunfo que teve em 1994 e em 1998: o Plano Real ¿ adverte o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

¿ Qualquer que seja o candidato escolhido, o preterido terá de vestir a camisa do outro. Não há salvação fora disso ¿ endossa o líder do partido na Câmara, Alberto Goldman (SP).