Título: FORTALECIMENTO DE KIRCHNER INFLUENCIOU
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 29/01/2006, O País, p. 11

Argentinos também se decepcionaram com Mercosul

BUENOS AIRES. Segundo o relada socióloga Graciela Romer sobre os resultados da pesquisa, a etapa de melhor posicionamento do presidente brasileiro coincidiu com momentos nos quais ainda havia incerteza sobre o perfil que teria a gestão de Néstor Kirchner. E com o compromisso de combate à pobreza e fortalecimento do Mercosul, defendidos por Lula, ¿duas demandas muito fortes dos argentinos¿.

Para a socióloga, a imagem de Lula foi abalada no ano passado pelo fortalecimento da liderança de Kirchner e ¿a construção de uma visão sobre Lula que reforça, entre os argentinos, a suspeita de que o Brasil está adotando uma atitude hegemônica no Cone Sul¿ ¿ e portanto, atrapalharia o desenvolvimento do Mercosul.

Brasil é visto como país que não faz concessões

Segundo a pesquisa de Romer, 52% dos habitantes do país apóiam o Mercosul e apenas 5% são favoráveis à criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), projeto defendido pelo governo dos Estados Unidos. O presidente americano George W. Bush é o chefe de Estado com maior imagem negativa entre os argentinos (78%).

Nos últimos meses, a imprensa argentina e alguns analistas locais questionaram a atitude adotada pelo governo brasileiro em conflitos comerciais com seus sócios do Mercosul. O Brasil é visto por muitos argentinos como um país que não faz concessões e prioriza seus próprios interesses. Uma das últimas crises entre os dois países, em maio, foi provocada por fortes críticas do governo argentino à pretensão brasileira de ocupar espaços em organismos internacionais como o Conselho de Segurança da ONU. Na época, jornais argentinos divulgaram uma suposta declaração de Kirchner que refletiria o sentimento de alguns setores da sociedade argentina.

¿Há um lugar na Organização Mundial de Comércio (OMC), o Brasil quer; há um lugar na ONU, o Brasil quer; há um lugar na Organização para a Agricultura e a Alimentação (FAO, na sigla em inglês), o Brasil quer. Quiseram até nomear um Papa brasileiro¿, teria dito Kirchner a seus colaboradores, segundo noticiou na época o jornal ¿Clarín¿.

Em março de 2003, os argentinos elogiavam o compromisso de Lula no combate à pobreza e sua honestidade. Entre os setores de classe média e média alta, o respaldo ao presidente brasileiro atingia 56%, em momentos em que o presidente Kirchner não conseguia superar 20% de apoio popular. Hoje, o chefe de Estado argentino, que já está analisando a possibilidade de concorrer à reeleição em 2007, é o homem mais poderoso do país, um líder político que governa praticamente sem oposição.