Título: EM RECIFE, SEGURADOS VOLTAM SEM SOLUÇÃO
Autor: Maiá Menezes e Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 29/01/2006, O País, p. 12

Na capital gaúcha, gerente de agência diz saber que existe venda de lugar nas filas

RECIFE e PORTO ALEGRE. Janaína Maria da Silva, de 28 anos, chegou na noite de quarta-feira ao posto do INSS no bairro da Encruzilhada, em Recife, para tentar ser atendida na manhã do dia seguinte. Ela foi a segunda pessoa a chegar ao guichê da agência ¿ uma das mais movimentadas da capital ¿ para pegar uma ficha, mas voltou para casa com apenas uma promessa: a de ser atendida em fevereiro.

¿ Perdi uma noite de sono e estou voltando sem solução. Isso é coisa de Brasil, doze horas perdidas ¿ reclama Janaína, que quer pedir auxílio-doença de uma tia. É a terceira vez que vai ao INSS e nada resolve.

Outro segurado, José Alves do Prado, 56, tenta atualizar as dívidas com o INSS. Já foi seis vezes às agências:

¿ Vou em um canto, me empurram para outro. Depois de passar por um monte de lugar, me dizem que o lugar certo é o primeiro em que estive.

A gerente regional do INSS, Nara Castilho, alegou que as filas diminuíram com o novo horário, mas que o segurado ainda superlota as agências nas primeiras horas da manhã.

¿ Vamos melhorar o atendimento. Estamos com muita gente de férias. É preciso maior desprendimento do servidor, e que o segurado aprenda a usar o horário alternativo ¿ disse.

Em Porto Alegre, as filas nos postos do INSS também atravessam a noite. Há até venda de lugares por valores que podem variar entre R$5 e R$40, dependendo da hora e da necessidade da pessoa. Na frente da agência do Iapi, uma das maiores da capital, há um colchão permanentemente encostado em uma árvore da rua, utilizado pelo grupo que se reveza nas filas de madrugada, para vender o lugar aos segurados de manhã.

¿ A gente fica aqui do lado de fora, com sol ou chuva, enfrentando o calor desta época. Isto aqui é um grande comércio. O pessoal vende lugar abertamente e ninguém faz nada ¿ reclamava a cozinheira Maria de Lourdes Machado, de 55 anos, que tem problemas crônicos de tendinite e artrose e quer marcar uma perícia.

Gerente denunciou venda de lugares à polícia

A gerente do INSS na capital gaúcha, Sinara Pastória, disse que há dificuldades, como as ameaças de greve dos funcionários, mas que a ampliação do horário aumentou em 10% o número de atendimentos. Ela disse ter conhecimento da venda de lugares e até do colchão na frente da agência do Iapi.

¿ Já informamos isso à polícia. Cabe a eles verificar se esse comércio é crime e tomar providências.