Título: `O Hamas é um tabu a ser quebrado¿
Autor: Renata Malkes
Fonte: O Globo, 29/01/2006, O Mundo, p. 36

TEL AVIV. O escritor Sam Bahour, filho de refugiados palestinos e autor de ¿Terra natal: histórias orais da Palestina e dos palestinos¿, se diz satisfeito com a vitória do Hamas. Segundo ele, o voto no Hamas foi um voto contra a corrupção.

A vitória do Hamas é resultado de conquistas próprias ou fruto de um fracasso do Fatah no governo?

SAM BAHOUR: Os resultados não surpreendem, mas a magnitude da vitória prova que os palestinos precisam de mudanças urgentes. Os eleitores do Hamas não pensaram em ter um Estado independente ou resolver o conflito com Israel, apenas depositaram um voto desesperado pela vida e pela normalidade. A sede de mudanças levou o povo a buscar refúgio no extremo. Trata-se de um voto contra a corrupção dos 40 anos do Fatah no poder, contra a estagnação política e contra a falta de condições mínimas de sobrevivência, como infra-estrutura, saúde pública, emprego e ensino.

Líderes do Hamas têm feito declarações ambíguas quanto a Israel. O Hamas tem chances de retomar o processo de paz?

BAHOUR: É cedo para identificar a estratégica do Hamas, mas é certo que a Autoridade Nacional Palestina será remodelada. Hamas e Fatah terão que dialogar.

O Hamas é considerado pelos EUA um grupo terrorista. A possibilidade de um governo que pode acabar isolado não assusta?

BAHOUR: De jeito nenhum. O Hamas chegou ao poder de forma democrática e sua administração terá de ser reconhecida por Israel e pelos EUA. Falta ao grupo experiência política, mas eles logo compreenderão que agora dentro do governo não podem se comportar como se estivessem fora. Não poderão optar pela violência como forma de alcançar suas metas. O Hamas é um tabu a ser quebrado. Há 20 anos, a OLP também era um tabu e os israelenses sequer cogitavam a hipótese de dialogar, mas a política é dinâmica. No fim, a resistência se quebrou e a OLP chegou às mesas de negociação internacionais. (R.M)

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