Título: PRECE: NOVO PREJUÍZO DE R$ 24,3 MILHÕES
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 30/01/2006, O País, p. 3

CPI dos Correios descobre outra fonte de perdas do fundo de pensão da Cedae

BRASÍLIA. Depois de descobrir perdas de até R$300 milhões em operações na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) e de R$35,705 milhões em negócios com títulos públicos, as investigações produzidas pela CPI dos Correios encontraram mais uma fonte de prejuízo da Prece, o fundo de pensão dos funcionários da Cedae. A fundação, segundo dados da CPI, perdeu R$24,3 milhões em negócios feitos no mercado secundário de títulos públicos com papéis chamados CVS, entre agosto de 2003 e julho de 2005.

Os CVS são títulos emitidos pelo Tesouro Nacional para securitizar os créditos do sistema financeiro contra o Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS). Em resumo, segundo os técnicos da CPI, um conjunto de corretoras, coordenadas pela Euro DTVM, ganhou R$40,3 milhões nesse mercado comprando e vendendo CVS.

¿A Prece participou com perdas de R$24,3 milhões, ou seja, 60,3% do total ganho pelas corretoras nos 24 meses analisados. Assim, os ganhos das corretoras somaram cerca de R$1,7 milhão por mês, sendo R$1 milhão obtidos na Prece, por meio de precificação extravagante¿, afirma relatório dos técnicos da CPI.

A Euro já estava sendo investigada pela CPI por ter sido beneficiada nas vendas de títulos públicos para o RioPrevidência, fundação dos funcionários do Estado do Rio de Janeiro, e para o Núcleos, fundo das estatais ligadas ao setor de energia nuclear.

As informações usadas pela CPI para analisar os negócios vieram da Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip). A pesquisa feita pelos técnicos da comissão mostrou que os fundos de investimento exclusivos da Prece foram os únicos a operar nesse mercado, embora existam outros perdedores não ligados a fundos de pensão. Entre as outras instituições que aparecem na ponta que levou prejuízo, segundo a CPI, estão o Direncial FIF, Banco BRJ S.A, FIF Compartilhado Patrimonial III, FIF Multimercado Celos entre outros. A maior parte desses nomes identificam fundos de investimento.

Corretora Euro elevava preços

Foram analisadas pelo menos 51 operações com CVS. Esses papéis são comercializados no mercado secundário por intermédio da Cetip, mas podem ser usados também para o pagamento de dívidas com o FCVS ou para o pagamento de bens vendidos durante o Programa Nacional de Desestatização. A corretora Euro aparece como a principal operadora na ¿cadeia negocial¿. Ou seja, é essa corretora a encarregada de promover a elevação do preço do título, seja no meio da cadeia ou na venda ao comprador final.

Com outra corretora, chamada Quantia, a Euro já vem sendo investigada pela CPI por negócios com o Núcleos e o Rio Previdência. Nos dois casos,característica em comum: as compras dos títulos custaram aos fundos cerca de R$20 milhões a mais do que os valores de mercado. No caso do Núcleos, uma auditoria feita pela KPMG apurou um custo a mais na compra de papéis federais de até R$22,7 milhões. Já no Rio Previdência os papéis teriam custado R$25 milhões além do necessário.

Além da Euro, outra corretora já conhecida da CPI dos Correios que apareceu em alguns negócios com os CVS é a Laeta S/A DTVM. A empresa aparece em outros dois relatórios da CPI como beneficiada pelas operações da mesma Prece com títulos públicos e no mercado futuro.