Título: GOVERNOS EUROPEUS TEMEM QUE FUSÃO CAUSE DEMISSÕES
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Fonte: O Globo, 30/01/2006, Economia, p. 18

Luxemburgo e França criticam maneira como proposta foi feita

LUXEMBURGO e BRUXELAS. Outro fator que pesou na decisão do Conselho de Administração da Arcelor de rejeitar a proposta da Mittal foi o temor das demissões. O governo de Luxemburgo criticou ontem a oferta hostil da Mittal. A Arcelor, além de ser um dos maiores motores da economia do principado, é também o maior empregador de Luxemburgo. O governo teme, além disso, que o acordo afete sua participação de 5,62% na Arcelor.

Uma oferta hostil é apresentada diretamente aos acionistas da companhia que é alvo, e muitas vezes vai contra a intenção da diretoria da empresa e de seu Conselho de Administração. É o oposto de uma oferta amigável, negociada com os gestores da corporação. ¿Os ministros expressaram sua preocupação com a aparente natureza hostil da oferta da Mittal e com a ausência de consultas prévias ao governo de Luxemburgo e à diretoria da Arcelor¿, disse o governo em comunicado.

A nota também afirma que não há detalhes, na proposta da Mittal, sobre o papel do Estado luxemburguês na empresa resultante da fusão nem da ¿manutenção das fortes garantias dadas pela Arcelor em termos de emprego e investimento em Luxemburgo¿.

Não foi só Luxemburgo que mostrou preocupação. O governo francês também se manifestou ontem: o ministro de Finanças, Thierry Breton, disse que vai pedir à Mittal esclarecimentos sobre a proposta.

¿ Fiquei muito surpreso com a maneira como a Mittal agiu ¿ disse Breton em entrevista ao canal de TV LCI.

A Europa concentra 77 mil dos 94 mil empregados globais da Arcelor, segundo dados de dezembro de 2004. No sábado, o governo da Região Sudeste da Bélgica pediu às duas empresas que respeitassem os acordos trabalhistas em vigor com os sindicatos. O governo afirmou que tentaria obter novos compromissos antes de vender sua participação de 2,4% na Arcelor. A empresa emprega 15 mil na região da Valônia, na Bélgica.

Mittal e primeiro-ministro de Luxemburgo vão se reunir

A Arcelor informou que dará uma entrevista coletiva hoje em Paris para dar mais detalhes sobre como vai combater a oferta hostil da Mittal.

¿ Vamos continuar a ser Arcelor ¿ disse o membro do conselho John Castegnaro.

O diretor-executivo da Mittal, Lakshmi Mittal, também dará entrevista coletiva hoje em Paris. Ele tem 88% das ações da siderúrgica e é o terceiro homem mais rico do mundo. Lakshmi vai se reunir amanhã com o primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker.

Segundo a Mittal, a empresa resultante da fusão terá capacidade de produzir cem milhões de toneladas de aço, com vendas anuais de US$69 bilhões. A redução de custos foi estimada em US$1 bilhão anual. O grupo teria cerca de três vezes o tamanho da Nippon Steel, que seria a segunda do ranking.