Título: MORREU DE VELHO
Autor: Mauro Halfeld
Fonte: O Globo, 30/01/2006, Economia, p. 20

Seguro de vida deveria trocar de nome para seguro de renda. A verdadeira função dessa apólice é garantir a sobrevivência de filhos e esposas que estão distantes do mercado de trabalho. E qual deve ser o valor segurado? Não há uma resposta precisa. Sugiro que seja o suficiente para gerar rendimentos equivalentes a 80% de sua renda atual. Por quanto tempo? O necessário para que seu filho caçula entre no mercado de trabalho.

Há enorme dispersão de preços no mercado segurador. Como pesquisar? Infelizmente no Brasil é difícil encontrar um rating (nota de classificação de risco) de seguradoras. Pior ainda: se você consultar um serviço de análise de crédito, vai perceber que grandes seguradoras brasileiras estão cheias de títulos protestados. Provavelmente, mais por uma questão de desorganização administrativa do que de risco de insolvência.

Prefiro seguradoras tradicionais, estatais ou multinacionais, ou ligadas a grandes grupos brasileiros. Como o seguro morreu de velho, diversificar é uma decisão bastante racional. Fazer apólices de valores menores em duas ou três diferentes empresas vai lhe dar mais tranqüilidade.

Comparar preços é crucial. Há enorme dispersão no mercado. Crie um índice: valor segurado dividido pelo prêmio mensal. Quanto maior o índice, melhor para você. Fuja de apólices cheias de alegorias. Ninguém consegue avaliar direito os seguros que incluem assistência 24 horas, serviços de chaveiro, pastas de couro, brindes ou sorteios. Tenho sempre a sensação de que estou sendo seduzido, como um índio ingênuo que adora espelhinhos. Por isso, prefiro seguros simples e objetivos, que possam ser comparáveis com seus concorrentes puros e transparentes.

Se hoje você tem alguém muito querido que depende de sua renda, não deixe de ter um ótimo seguro de renda, isto é, de vida. Por outro lado, se você é solteiro, não tem filhos ou tem uma esposa independente financeiramente, esqueça seguros de vida.

Meu amigo Renato tem 52 anos, filhos criados e uma dinâmica esposa que trabalha na Petrobras. Ele cancelou o seguro de vida porque disse não estar preocupado com a saúde financeira do futuro marido de sua viúva. Preferiu reforçar seu próprio plano de saúde. Tem toda razão.

Se você não está na situação do Renato, o melhor que eu posso lhe desejar é que, mesmo pesquisando e pechinchando, gere ótimos lucros para sua seguradora. Tenha uma longa vida!