Título: Nem troca de deputado deve livrar Pedro Corrêa no Conselho de Ética
Autor: Evandro Éboli e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 31/01/2006, O País, p. 4

PFL tenta adiar votação de processo de Roberto Brant (MG) em plenário

BRASÍLIA. O Conselho de Ética da Câmara deve aprovar hoje relatório que recomenda a cassação do mandato do presidente nacional do PP, deputado Pedro Corrêa (PE). Entre as manobras para tentar salvar o mandato de Corrêa, o PP substituiu Pedro Canedo (PP-GO) no conselho. Ele não vinha cumprindo as orientações do partido e, como é deputado suplente, será substituído na Câmara pelo titular Leonardo Vilela (PSDB), que ocupava cargo de secretário estadual em Goiás.

Dificilmente Corrêa irá se livrar do pedido de cassação. Pelo menos oito integrantes, número suficiente para aprovar o relatório, vão votar pela perda do mandato: Carlos Sampaio (PSDB-SP), relator do processo; Orlando Fantazzini (PSOL-SP); Chico Alencar (PSOL-RJ); Ann Pontes (PMDB-PA); Nelson Trad (PMDB-MS); Mendes Thame (PSDB-SP); Júlio Delgado (PSB-MG); e Josias Quintal (PSB-RJ).

Canedo sofre pressões desde a semana passada

Canedo vinha sofrendo pressões do PP desde a semana retrasada, quando mudou seu voto no processo contra Professor Luizinho (PT-SP). Ele redigiu voto pelo arquivamento do caso do petista, mas acabou mudando seu parecer e pedindo a cassação. Canedo, contrariando orientação do PP, votou pela cassação do mandato de Roberto Brant (PFL-MG). Pedro Corrêa (PE) está furioso com Canedo, segundo integrantes da bancada.

Canedo disse ontem que não está deixando a Câmara por uma retaliação do PP e afirmou que seu afastamento se deve somente a uma decisão do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que pediu o afastamento dos secretários que vão disputar a eleição deste ano. Mas o prazo de desincompatibilização só termina em 31 de março.

Com a saída de Canedo, autor do relatório contra Professor Luizinho (PT-SP), o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), deve indicar outro conselheiro para ler o relatório que recomenda a cassação do mandato do deputado no plenário.

Devem votar a favor de Pedro Corrêa hoje os deputados Benedito de Lira (PP-AL), Ângela Guadagnin (PT-SP) e o substituto de Pedro Canedo. Os votos dos deputados pefelistas Edmar Moreira (MG), Jairo Carneiro (BA) e Moroni Torgan (CE) são três incógnitas.

Corrêa teve seu nome relacionado no esquema do mensalão após depoimento na Polícia Federal de João Cláudio Genu, assessor do PP e seu principal auxiliar. Genu disse que recebeu mais de R$3 milhões, a pedido da direção do PP, no Banco Rural, em Brasília. O dinheiro era levado em pastas até a sala da presidência do PP, no Congresso.

Partido usará todas as manobras regimentais

Em outra frente, o PFL tenta evitar que o processo de cassação de Brant (PFL-MG) seja votado em primeiro lugar na convocação extraordinária do Congresso. Depois da absolvição do deputado Romeu Queiroz (PTB-MG), em dezembro, o receio dos partidos é que haja mais pressão pela cassação.

¿ Cabe ao presidente Aldo Rebelo decidir a ordem de votação. As razões dos que recorrem devem ser consideradas, mas os recursos não podem ser usados para protelar a votação ¿ afirmou o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).

O processo de Wanderval Santos (PL-SP) foi votado antes do de Brant, mas ele recorreu à Comissão de Constituição e Justiça contra o resultado e o pefelista disse que não recorrerá. O recurso de Wanderval deverá ser apresentado hoje, mas qualquer deputado da CCJ poderá pedir vista, adiando a votação.

Depois de votado, há um prazo de duas sessões para inclusão na pauta. Mas as sessões de segundas e sextas-feiras não têm tido quórum necessário para que elas sejam validadas. Isso deverá levar a votação de Wanderval para o dia 10 ou o dia 15.

O processo de Brant foi enviado ontem para a Secretaria Geral. Os pefelistas acreditam que, com manobras regimentais legítimas, Brant só será julgado no dia 22 de fevereiro.

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