Título: MILITAR DIZ QUE SÓ FOI ANISTIADO POR JANGO
Autor: Chico Otavio
Fonte: O Globo, 31/01/2006, O País, p. 10

Coronel voltou ao Brasil um ano depois da Revolta de Aragarças

O domínio das técnicas de guerra química salvou o então capitão Tarcísio Nunes Pereira de um aperto na Argentina. Proibido de voltar ao Brasil, ele sobreviveu vendendo empadinhas. Embora ache graça da forma encontrada para sobreviver no exílio, o coronel, hoje com 75 anos, lamenta ser um dos poucos brasileiros a discordar da idéia de que o governo Juscelino Kubitschek foi um dos mais democráticos já vividos no país:

¿ Ao contrário do que se diz, não fomos perdoados por Juscelino. Nosso grupo só foi anistiado depois, no governo Jango ¿ referindo-se ao período presidido por João Goulart (1961-64).

O coronel Tarcísio pertenceu a um grupo de oficiais e civis que, no fim do governo JK, tentou derrubar o presidente no episódio que entrou para historia como a Revolta de Aragarças. Alguns historiadores sustentam que a ação foi uma espécie de preliminar do golpe militar que viria anos depois. JK já enfrentara duas rebeliões militares ¿ o Onze de Novembro, antes da posse, em 1955, e Jacareacanga, no ano seguinte, todas marcadas pelo fracasso e pela não-retaliação ¿ quando o pequeno grupo tomou uma pista de pouso no Brasil Central e pensou em bombardear o Palácio do Catete.

A professora Maria Antonieta Leopoldi, da UFF, disse que uma das marcas do governo JK foi perdoar os revoltosos, incluindo militares, mas isso tinha um limite:

¿ Ele tentou ser tolerante, mas algum tipo de sanção tinha de ocorrer. Em política, não dá para perdoar tudo.

A aventura de Tarcísio e seu grupo, chefiado pelo então tenente-coronel João Paulo Burnier, começou no dia 2 de dezembro de 1959 com o seqüestro de um Constalation da Panair. A revolta foi sufocada em menos de 72 horas e os rebeldes fugiram para países vizinhos. Roberto Rocha e Souza, hoje com 89 anos, amargou o exílio de um ano no Paraguai e na Argentina, junto com Tarcísio. Ele se recorda que, anos mais tarde, encontrou Juscelino na praia.

¿ Para minha surpresa, ele me abraçou e disse: ¿Meu herói¿. Fiquei sem graça. Expliquei que fiz aquilo não contra ele, mas contra a corrupção que vinha desde os anos 30.