Título: GOVERNO FAZ CAPTAÇÃO EXTERNA COM CUSTO MENOR
Autor: Martha Beck e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 31/01/2006, Economia, p. 21

Demanda no mercado externo, no entanto, ficou abaixo do esperado e Tesouro emitiu 300 milhões de euros

BRASÍLIA e RIO. O Tesouro Nacional fez ontem mais uma captação de recursos ¿ 300 milhões de euros (cerca de US$365 milhões) ¿ no mercado internacional, a primeira nessa moeda em 12 meses. O título oferecido foi o Euro 2015, com prazo de nove anos, que é negociado no exterior pela segunda vez. O Tesouro conseguiu reduzir fortemente o custo da captação, mas o volume frustrou expectativas, já que, segundo analistas, o governo esperava captar de 500 a 600 milhões de euros. A demanda teria sido menor porque o apetite do mercado estaria direcionado a papéis denominados em dólar.

Na operação de ontem, o Euro 2015 foi negociado por 113,428% do valor de face. Isso significa que os investidores aceitaram pagar um ágio para ter o papel em suas carteiras. Já na captação feita em janeiro de 2005 ¿ 500 milhões de euros ¿ o mesmo título foi negociado por 98,8% de seu valor de face. Neste caso, o investidor cobra um ágio pelo papel. Já a taxa de retorno para os investidores ficou, na captação de ontem, em 5,448% ao ano. Na anterior, foi de 7,55% ao ano.

¿ O fato de o papel ter sido vendido acima de seu valor de face mostra que os títulos brasileiros estão valorizados no mercado internacional ¿ explicou um técnico do Tesouro.

A captação de ontem foi a segunda do ano. Na primeira, o governo captou US$1 bilhão em bônus com vencimento em 2037. As emissões de títulos no mercado externo são feitas pelo Tesouro para quitar vencimentos da dívida externa. A intenção para 2006 e 2007 é reduzir o estoque desse endividamento em US$2,8 bilhões. Para isso, o Tesouro vai deixar de rolar 100% do principal da dívida para passar a rolar cerca de 80%. Na prática, isso significa que o governo vai pagar 20% dos títulos que vencem no período.

Ações do UOL despencam 24%, a maior queda da Bolsa

No mercado financeiro brasileiro, o dólar fechou em ligeira queda (-0,05%), cotado a R$2,216, após dois leilões do Banco Central (BC), que comprou moeda à vista por R$2,211 e movimentou US$212,7 milhões no mercado futuro. O risco-país subiu 0,38%, para 261 pontos centesimais, e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) atingiu novo recorde histórico: 38.242 pontos, uma alta de 1,11%.

Os papéis do provedor de internet UOL tiveram ontem a maior queda da Bolsa: 23,9%, cotados a R$14. Um relatório da corretora Merrill Lynch teria motivado a queda das ações, que valiam R$18,40 na sexta-feira. No documento, o analista Michael Kopelman avalia que os papéis, lançados em dezembro pela própria Merrill Lynch, estão em nível de preços ¿insustentável¿. No entanto, o valor é muito próximo daquele estabelecido pelos coordenadores para a oferta pública (R$18). O patamar ideal seria de R$16, de acordo com a Merrill Lynch.

Segundo Kopelman, o negócio de assinatura de internet é pouco atraente se considerado o risco regulatório do setor e um ambiente de negócios cada vez mais competitivo. Já o outro coordenador da oferta, o banco Pactual, havia publicado, na última quinta-feira, um relatório em que recomendava a compra de ações do UOL ¿ uma de suas maiores apostas para 2006 ¿ que deveriam valer R$26 até o fim do ano, o que significaria uma alta de cerca de 40% em relação aos preços atuais. Para o banco, a queda recente de preços seria uma excelente oportunidade de compra.