Título: GOOGLE & CIA
Autor: Nelson Vasconcelos
Fonte: O Globo, 31/01/2006, Economia, p. 23

Muita gente anda intrigada porque o Google teve que se render ao governo da China, instituindo oficialmente a censura na versão chinesa do seu mecanismo de busca. Dizem uns que foi um retrocesso do Google, que assim teria faltado com a ética. Bobagem. Ética não tem necessariamente a ver com o mundo dos negócios. Para muitos, aliás, são entidades que dificilmente se misturam.

Estar no mercado chinês é infinitamente mais ético ¿ do ponto de vista da empresa Google ¿ do que dar voz à democracia e a outros costumes do mundo ocidental. Que, por sinal, nem é tão democrático assim...

Argumentos defendendo a liberdade de expressão e de manifestação de idéias na internet são, em geral, pouco mais que inocentes. Há tempos que a grande rede deixou de ser um ambiente romântico. Ser romântico ¿ um secular vício estético-filosófico ¿ talvez sobreviva bem ali nas questões pessoais (e olhe lá), mas está longe de ser a regra no mundo dos negócios. E a internet, antes de qualquer coisa, é um ambiente selvagem de negócios ¿ portanto, sujeito às leis de quem manda. Quem tem juízo, obedece.

Por sinal, os donos do Google, Sergey Brin e Larry Page, estão aqui no Brasil. Ontem, em São Paulo, bateram um papo com jornalistas. Page disse que o caso da censura na China é complexo porque existe lá um mercado de 115 milhões de pessoas usando uma ferramenta importante para o próprio trabalho. Por isso, não poderiam simplesmente deixar de lado esse mercado.

Por sua vez, Brin disse que, tendo nascido em Moscou em 1973, entende bem o que significa ter o Estado controlando a informação que circula entre os cidadãos.

¿ Controle é uma coisa da qual não gosto muito. Mas pelo menos os chineses têm acesso agora a um pouco mais de informação ¿ disse Brin.

Há tempos que Microsoft e Yahoo cederam às exigências do governo chinês e não houve maior celeuma. Derrubaram blogs, por exemplo, e ficou nisso. O que faz o povo sair em defesa do Google é sua imagem de uma empresa de bons moços. Afinal, ela ajuda você a se localizar na barafunda digital da rede. Será o santo da história?

Outro ponto importante: essas empresas defendem a livre expressão na internet não por grandes questões éticas, mas porque faturam, e muito, trafegando ou viabilizando o tráfego do conteúdo alheio, seja lá qual for sua origem. Elas pavimentam a tal estrada da informação. Quanto mais estradas, melhor para elas. Pensar que são democráticas também tem algo de inocência.

O Google conta hoje com 4.183 funcionários em oito centros de pesquisa, sendo quatro nos EUA e os demais em Japão, China, Índia e Suíça. Brin anunciou semana passada, durante o Fórum Econômico de Davos, na Suíça, que a empresa está ¿em processo de estabelecimento de um centro de pesquisa e desenvolvimento¿ em Israel.

Quem viver verá

Você não agüenta mais os celulares que fotografam? Pois relaxe, porque vai ficar pior. A consultoria InfoTrends estima que, este ano, mais da metade dos novos aparelhos vendidos em todo o mundo terão câmera embutida. Em 2010, serão 87% do total. Ano passado, diz a consultoria, metade dos 741 milhões de novos telefones comercializados também estava habilitada a fotografar.

No quesito chutometria, anote: em 2010, serão feitas 228 bilhões de imagens via celular, ainda segundo a consultoria. Difícil conferir. De qualquer forma, quem fica muito feliz com isso, naturalmente, são as operadoras de telefonia, que transportam em suas redes boa parte de toda essa carga.

É a tal história: a indústria nos cria necessidades que, por milênios, eram só desnecessidades. Aí não tem mais como escapar. Até porque os celulares com câmera estão cada vez mais tentadores mesmo. Além da resolução, recursos como zoom, macro e autofoco estão melhorando muito rapidamente. E o preço já foi obstáculo maior.

O que talvez esteja faltando para a indústria ¿ pelo menos para o mercado brasileiro ¿ é facilitar a vida de quem é menos chegado a ler manual do usuário (ou seja, quase todos).

Em tempo: a gente leu aqui no GLOBO de domingo que fezes de galinha poderão produzir gás e fertilizante. Pois bem: segundo o ¿Cellular news¿, o Instituto de Bioengenharia e Nanotecnologia de Cingapura desenvolveu uma bateria de papel com um milímetro de espessura, própria para celulares, que usa urina humana como fonte de energia.

Como se sabe, desperdício é algo muito feio.

Mais outra da mesma fonte inesgotável: autoridades da Grã-Bretanha fizeram um teste curioso. Enviaram mensagens de textos (SMS) para os celulares de 150 cidadãos que estavam com alguma dívida com a Justiça. Dois terços deles ficaram tão surpresos com a abordagem que rapidamente procuraram os tribunais para resolver sua situação.