Título: `Uma oposição combativa¿
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Fonte: O Globo, 31/01/2006, O Mundo, p. 24

RAMALLAH. Após a humilhante derrota das urnas, o vice-ministro da Informação da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Ahmed Soboh, faz um mea-culpa e admite que o Fatah perdeu para o Hamas por indisciplina.

O senhor assume em parte a derrota do Fatah e a saída do poder após 40 anos de predomínio absoluto. O que houve?

AHMED SOBOH: Recebemos um castigo. Perdemos por falta de disciplina e ansiedade. Foram erros de gestão interna, pois não pudemos controlar a insatisfação e quase toda a ala jovem do Fatah concorreu às eleições por legendas independentes. O partido está rachado e não nos demos conta disto. Um bom exemplo de quanto estivemos preocupados com a política externa e não com nossos problemas é o fato de que o último conselho nacional do Fatah aconteceu em 1989, na Tunísia. Acho que a vitória esmagadora do presidente Mahmoud Abbas nas eleições presidenciais no ano passado ainda é prova de que o povo palestino acredita no caminho do Fatah.

O senhor acredita que a política de Israel influenciou o resultado das eleições?

SOBOH: De certa forma, sim. Israel não está pronto para uma negociação séria, envolvendo pontos importantes sobre o status final de Jerusalém e o fim da política de expansão de assentamentos em terras palestinas. Parece que o governo israelense preferiu o Hamas, pois eles sabem dos problemas internos do Fatah e não ajudaram a manter o governo de pé. Presos como o líder Marwan Barghouti e outros cerca de 2 mil ativistas detidos em cadeias israelenses poderiam ter sido libertados para reforçar o Fatah e a ANP.

É possível um governo de coalizão com o Hamas?

SOBOH: Nunca. Já nos reunimos após a derrota e a resposta é nunca. Tivemos muita vontade política para realizar eleições livres e democráticas. Tudo deu certo e respeitamos o resultado, vamos entregar o Poder Executivo ao Hamas e ficar na oposição. Ao contrário de boatos, Abbas não vai renunciar, pois o povo acredita em seu caminho político, trabalhando na solução de dois Estados para dois povos, pelo fim da violência e retomada do diálogo com Israel. Seremos uma oposição combativa à administração do Hamas.

Com um governo liderado por radicais e sem Ariel Sharon, quem seria o melhor parceiro para a paz do lado israelense?

SOBOH: Qualquer um será bem-vindo, pois é necessário discutir e dialogar. Sharon é o último nome carismático israelense. Temos críticas a seus projetos de retirada unilateral, mas ele era uma figura importante. Os outros são apenas políticos.