Título: PROTESTOS MARCARÃO DISCURSO DE BUSH HOJE
Autor:
Fonte: O Globo, 31/01/2006, O Mundo, p. 25

Presidente americano vai pressionar Irã, mas manifestantes tentarão evitar que ele seja ouvido

NOVA YORK. Parece um diálogo de surdos. O presidente George W. Bush usará o discurso sobre o Estado da União, hoje à noite, para mandar um recado ao Irã, pedindo mais liberdade para seu povo. Exatamente no mesmo momento, milhares de manifestantes reunidos em pelo menos 64 cidades americanas estarão tentando se fazer ouvir, protestando ruidosamente contra as limitações dos direitos civis nos Estados Unidos e pedindo o fim da guerra no Iraque.

¿Queremos que seja permitido ao povo iraniano viver numa sociedade livre¿, dirá Bush, esperando que os manifestantes tenham sido mantidos à distância da elite política de Washington, que estará cumprindo o seu ritual anual, reunida para ouvir o diagnóstico do país feito pelo presidente e para conhecer sua lista de prioridades.

Numa reunião com seu Gabinete ontem na Casa Branca, Bush decidiu os principais pontos do discurso, que vem sendo considerado fundamental para combater os baixos índices de popularidade de seu governo, fustigado por críticas à sua política externa e à ineficiência administrativa no campo interno.

Jane Fonda, Sean Penn e Gore Vidal apóiam protesto

No front externo, Bush destacará a preocupação com o programa nuclear do Irã e mais uma vez defenderá sua política do Iraque. Na agenda interna, paralisada por sucessivas crises políticas, alinhará medidas para estimular o desenvolvimento de formas alternativas de combustível e combater a alta da gasolina.

Nas ruas, os militantes iniciarão uma semana de protestos que culminará com um comício em Washington, no sábado, que pretende cercar a Casa Branca. Para os líderes do protesto, ¿o Estado da União é o estado de emergência¿. Patrocinadas por dezenas de organizações lideradas pela The World Can`t Wait ¿ Drive Out the Bush Regime (O Mundo Não Pode Esperar ¿ Expulse o Regime de Bush), as manifestações ganharam o apoio de celebridades, entre elas os atores Harry Belafonte, Jane Fonda, Jessica Lange e Sean Penn, o diretor de cinema Paul Haggis, o teatrólogo Harold Pinter, o artista plástico Richard Serra e os escritores Gore Vidal, Kurt Vonnegut e Alice Walker.

Num manifesto de página inteira no ¿New York Times¿, os grupos afirmam que a desastrosa política do governo tem de ser interrompida. ¿Devemos e podemos criar uma situação política em que o governo seja repudiado, Bush sofra um impeachment e o caminho que a sociedade está tomando seja mudado. Somos milhões e podemos assumir a responsabilidade de mudar o curso da História. O futuro não está escrito. Depende de nós¿, defendem.

As maiores manifestações são esperadas em Nova York, Los Angeles, Chicago, São Francisco e Washington. Os manifestantes são orientados a levar instrumentos musicais, panelas e tambores. (Helena Celestino)