Título: FED ELEVA JUROS NA ÚLTIMA REUNIÃO DE GREENSPAN
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Fonte: O Globo, 01/02/2006, Economia, p. 23

BC americano faz 14º aumento consecutivo e deixa caminho aberto para nova alta sob o comando de Bernanke

WASHINGTON. Marcando o fim da era Greenspan, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) elevou ontem sua taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 4,5%, a maior desde maio de 2001. A decisão foi unânime e já era esperada pelo mercado. E o Maestro ¿ como Alan Greenspan é chamado nos Estados Unidos ¿ deixou sua marca: o comunicado fala que ainda pode ser necessária outra alta.

Foi a 14ª elevação seguida. E a última reunião com Greenspan como presidente do Fed, depois de 18 anos e três presidentes: George Bush (o pai), Bill Clinton e George W. Bush.

Analistas vêem mudança de tom na nota do Fed

O comunicado do Fed sofreu uma leve alteração em relação aos meses anteriores, o que, segundo analistas, deixa a porta aberta para o sucessor de Greenspan, Ben Bernanke, aumentar novamente a taxa ou dar a alta por encerrada.

O Fed disse que outras elevações ¿podem¿ ser necessárias, uma mudança em relação à nota de dezembro, que afirmava que as taxas mais altas eram ¿prováveis¿.

¿Apesar de alguns dados macroeconômicos recentes terem sido desiguais, a expansão da atividade econômica parece sólida¿, diz o comunicado do Fed. ¿O núcleo da inflação ficou relativamente baixo nos últimos meses e as estimativas de longo prazo para a inflação permanecem contidas¿. O BC americano voltou a alertar que os altos preços de energia e um mercado de trabalho enxuto ¿têm potencial para aumentar as pressões inflacionárias¿.

A próxima reunião do Fed será em 28 de março, já com Bernanke. Sua nomeação foi confirmada ontem pelo Senado americano, e ele assume hoje a presidência do Fed.

¿ Eles presentearam o Bernanke com uma ¿casa limpa¿. Em março eles vão revisar os dados do início ¿ disse Michael Jansen, estrategista de câmbio do National Australia Bank, em Nova York.

Bernanke, que antes ocupava a presidência do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, defende uma política de metas de inflação. Ele cumprirá um mandato de quatro anos, renovável. E foi elogiado por democratas e republicanos:

¿ Ele é erudito e inteligente ¿ disse o senador Charles Schumer, do Partido Democrata, de oposição a Bush.

Mercado imobiliário ainda é fonte de preocupação

As estimativas apontam um crescimento de 3,5% da economia dos EUA este ano. No quarto trimestre de 2005, a expansão foi de 1,1%, a mais fraca dos últimos três anos, mas analistas apostam em recuperação no trimestre corrente. A questão é o que vai acontecer no decorrer do ano.

Para alguns especialistas, a economia ainda tem muito fôlego, o que vai requerer uma política agressiva de juros para evitar a alta da inflação. Outros prevêem o enfraquecimento do mercado imobiliário e temem a desaceleração do consumo ¿ graças aos juros baixos, os americanos costumam hipotecar seus imóveis para obter dinheiro. Os gastos dos consumidores respondem por dois terços da economia dos EUA.

Apesar de uma queda de 0,9% no consumo em dezembro, os americanos continuam dispostos a gastar. O índice de confiança do consumidor, divulgado ontem, subiu de 103,8 para 106,3 em janeiro.