Título: TV DIGITAL: APÓS PROPOSTAS, MINISTRO DESCARTA EUA
Autor: Monica Tavares e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 01/02/2006, Economia, p. 25

Japão e UE oferecem empréstimo. Japoneses ainda darão isenção de `royalties'. Governo ouvirá fornecedores até quinta

BRASÍLIA. O padrão tecnológico americano de TV digital está praticamente descartado, diante das condições oferecidas ao Brasil pelos três concorrentes ¿ além dos EUA, o Japão e a União Européia (UE).

¿ Já se pode decidir entre o japonês e o europeu ¿ afirmou ontem o ministro das Comunicações, Hélio Costa.

O Japão ofereceu isenção de royalties, produção local de conversores, 300 milhões de euros em empréstimos, assento no conselho responsável pelo desenvolvimento da tecnologia e inserção dos softwares brasileiros no padrão. A UE ofereceu o mesmo financiamento que o Japão, mas, no campo dos royalties (US$4 por televisor), apenas propôs investir metade do valor em pesquisa e desenvolvimento no Brasil. Os EUA não ofereceram empréstimo e acenaram com redução de 50% nos royalties.

Em audiência na Comissão de Ciência e Tecnologia do Congresso, ontem, Costa disse que, dos três consórcios montados no Brasil para analisar os modelos e ajudar o governo a decidir, dois concluíram que o Japão tem o melhor padrão:

¿ O padrão japonês atende perfeitamente às quatro imposições da TV digital (alta definição, portabilidade, mobilidade e interatividade).

O governo quer escolher a tecnologia até o dia 10 e criou um grupo interministerial ¿ Costa, Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Antonio Palocci (Fazenda) ¿ para ouvir esta semana representantes dos fornecedores, inclusive dos EUA. Hoje serão ouvidos os europeus. Amanhã deve ser a vez dos japoneses. A reunião com os americanos ainda não foi marcada.

¿ Até quinta-feira à tarde vamos receber os representantes dos três padrões. Em seguida, o presidente da República receberá as informações para tomar a decisão ¿ disse Costa. ¿ Eu botei a bola na marca do pênalti para o senhor (Lula) fazer um gol de placa, com as indicações que estão aqui absolutamente referendadas por equipes técnicas que participaram no Brasil inteiro. Ou o senhor chuta e marca um gol de placa, ou o senhor chuta devagar, a bola entra de mansinho mas ainda faz o gol, ou o senhor chuta para fora. A posição é dele.

Costa defendeu que a escolha do padrão seja a primeira discussão em telecomunicações a ser destravada e decidida, para que o país não fique defasado. Alterações na Lei Geral e a Lei de Comunicação Eletrônica de Massa viriam depois.

¿ Enquanto estamos falando de TV digital, a participação das teles é razoavelmente pequena nesta primeira fase ¿ afirmou.

Porém, Costa admitiu que sem as empresas de telefonia não haverá interatividade. Ele prefere que seja usada a rede da telefonia fixa como canal pelo qual o telespectador interage com o programa de televisão.

Costa afirmou que é fundamental que a TV digital se destine ao sistema aberto, para oferecer à população de baixa renda alta definição, som de qualidade, portabilidade (pelo celular) e mobilidade (TVs em ônibus, carros etc.):

¿ A TV ainda é o grande instrumento de diversão da população. O Brasil só é superado em qualidade técnica e produção de conteúdo pelos EUA.